Foto: Departamento Regional da Cidasc de Criciúma.

O Departamento Regional da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc) de Criciúma entregou, na quinta-feira (03/07), o Selo ARTE para a empresa Biltong Brasil, localizada em Balneário Arroio do Silva, no Extremo Sul do Estado. O reconhecimento foi concedido ao produto que dá nome à empresa – o biltong, uma carne seca e curada com origens na tradição alimentar indígena da África do Sul.

O Selo ARTE, concedido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) por meio da Cidasc, garante que o produto de origem animal foi elaborado de forma artesanal e segue boas práticas agropecuárias e sanitárias, permitindo sua comercialização em todo o território nacional. Com essa certificação, a Biltong Brasil amplia sua capacidade de mercado e leva aos brasileiros uma iguaria com raízes profundas na cultura sul-africana.

Foto: Departamento Regional da Cidasc de Criciúma.

Para o gestor do Departamento Regional da Cidasc de Criciúma, Eduardo Damineli Pesenti, o reconhecimento reforça a diversidade e o valor da produção artesanal. “Falar em Selo ARTE é falar em arte, sim, a arte de fazer o melhor, o mais saboroso e mantendo, na íntegra, o jeito artesanal de se elaborar o produto. Esta entrega mostra um produto totalmente diferente de tudo aquilo que já vimos, um produto diferenciado que tem suas raízes na cultura indígena, um produto muito consumido na África do Sul e que com certeza vai conquistar o paladar catarinense e brasileiro”, destaca Eduardo.

A entrega do Selo ARTE contou com a participação de Camila Harvey. O evento contou com a presença do gestor do Departamento Regional da Cidasc de Criciúma, Eduardo Damineli Pesenti, e dos médicos-veterinários José Henrique de Oliveira e Luana Oliveira Venson de Souza. 

Tradição familiar transformada em negócio

Natural de Port Elizabeth, na África do Sul, Gregg Jeffrey Harvey é a quarta geração de sua família a nascer em solo sul-africano desde a chegada de seus antepassados ao continente no século XVII. Desde a infância, o biltong fazia parte da sua dieta. “Era comum as mães darem biltong para os bebês durante o período de dentição, pois ajudava a aliviar o desconforto nas gengivas”, conta Diana Harvey, mãe de Gregg.

Criado em uma cultura onde a produção doméstica de biltong é um hábito enraizado, Gregg cresceu acompanhando o pai na caça de animais como o kudu, cuja carne é tradicionalmente utilizada para o preparo de biltong, linguiças e droewers – outro embutido típico sul-africano. A carne era marinada e deixada para secar por cerca de duas semanas em estruturas montadas nas garagens das casas.

Do surfe em Florianópolis ao empreendimento em Balneário Arroio do Silva

Em 2009, Gregg veio ao Brasil em busca de boas ondas em Florianópolis. Três anos depois, estabeleceu residência em Araranguá, onde vive com sua esposa Camila. Foi em 2021, já morando em Balneário Arroio do Silva, que decidiu matar a saudade da culinária da infância. Inspirado em lembranças de família e orientado por conversas com o pai, construiu sua própria biltong box – uma caixa artesanal usada para a desidratação da carne.

As primeiras produções, com cortes como alcatra e picanha, surpreenderam pela qualidade e sabor. O que começou como consumo doméstico e presente para amigos, transformou-se em um pequeno negócio familiar. Em 2023, a Biltong Brasil foi formalizada, com CNPJ e sede física no município. Hoje, a empresa atua em toda a região da Associação dos Municípios do Extremo Sul Catarinense (Amesc), com registro no Serviço de Inspeção Municipal (SIM), número 001-009.

Valorização da cultura alimentar e estímulo à produção artesanal

Para Gregg, o Selo ARTE representa mais do que uma chancela sanitária: é o reconhecimento da autenticidade e da dedicação envolvidas na produção de um alimento enraizado em sua identidade cultural. “A conquista do Selo ARTE é um passo importante para ampliar o alcance do nosso produto, mantendo o compromisso com a qualidade e a tradição artesanal”, afirma o empreendedor.

A Cidasc reforça que o Selo ARTE é uma ferramenta de valorização dos pequenos produtores artesanais, que incentiva a formalização e a regularização sanitária, além de promover a diversidade gastronômica e cultural do país.

Com mais esse reconhecimento, Santa Catarina se consolida como referência nacional na concessão do Selo ARTE e no apoio à agroindústria artesanal, promovendo inovação e tradição lado a lado.

Origem e história do Biltong

O biltong, um ícone da gastronomia da África do Sul, tem suas raízes na cultura indígena da região. Originalmente, as tribos nativas usavam técnicas de secagem de carne de suas caças para preservá-las para refeições futuras. Os povos nativos da África Austral, como os Khoikhoi, conservavam a carne de animais cortando-as em tiras, as curando com sal e deixando-as secar ao ar livre.

Essa prática antiga foi aprimorada ao longo dos séculos, especialmente com a chegada dos colonizadores europeus no século XVII. Os primeiros colonos, principalmente os holandeses e britânicos, trouxeram consigo métodos de cura de carne que se mesclaram com as técnicas dos nativos locais, resultando no desenvolvimento do biltong como o conhecemos hoje. A inclusão do uso de vinagre e especiarias como pimenta preta e coentro tornaram-se ingredientes-chave na produção do biltong devido às suas propriedades antibacterianas e antimicrobianas, além de acrescentar sabores distintos à carne. Foi depois desta mescla de técnicas que nasceu o nome Biltong, que foi criado a partir da união de duas palavras holandesas: bil que significa carne, e tong que significa tira – carne seca em tiras.

Devido à sua durabilidade e alto valor nutricional, o biltong tornou-se um alimento importante durante as expedições marítimas e migração dos colonizadores holandeses – os Voortrekkers como eram chamados – à medida que viajavam mais para o norte da África do Sul. Neste período da história, tanto os nativos quanto os colonizadores europeus utilizavam carnes de diferentes tipos de animais de caça, tais como cudo, springbok e gnus, – típicos da fauna daquela região – , assim como carne de avestruz e bovina.

Tradicionalmente, o biltong era preparado durante os meses de inverno, quando o risco de crescimento de bactérias e fungos era menor. O ar frio e seco também era muito mais eficiente em secar a carne de uma forma mais segura e conservando melhor os nutrientes. Com o tempo, o biltong transcendeu sua utilidade como alimento preservado e tornou-se um símbolo da identidade culinária sul-africana. Desde os dias da colonização até os tempos modernos, o biltong é apreciado por sua textura rica, sabor intenso e conexão com as tradições culinárias profundamente enraizadas do país.

Sua presença é onipresente em toda a África do Sul, desde lanches rápidos em viagens de carro até pratos sofisticados em restaurantes de alto padrão. O biltong é mais do que apenas uma comida; é um testemunho da rica história e diversidade cultural do país, celebrando a habilidade artesanal e a paixão pela gastronomia que une as pessoas em torno da mesa.

O Selo ARTE é concedido pela Cidasc, com base na Lei Federal n.º 13.680/2018 do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e no Decreto nº 10.178/2019, com o objetivo de valorizar a produção artesanal, promover a geração de renda no meio rural e garantir que os produtos artesanais de origem animal atendam a rigorosos padrões sanitários e de qualidade, permitindo sua comercialização em todo o território nacional. Essa certificação beneficia tanto os produtores, ao abrir novas oportunidades de mercado em todo o Brasil, quanto os consumidores, que passam a ter acesso a produtos com identidade, desde que as agroindústrias possuam um Serviço de Inspeção Municipal (SIM), ou Serviço de Inspeção Estadual (SIE), ou Serviço de Inspeção Federal (SIF) implantados. 

A certificação abrange uma ampla variedade de produtos, como queijos, méis, linguiças, patês, doces de leite e presuntos. Com forte influência da imigração italiana, alemã e açoriana, Santa Catarina possui uma produção artesanal rica e diversificada, que ganha ainda mais valor com a concessão do Selo ARTE.

Como solicitar o Selo ARTE

Em primeiro lugar, a agroindústria artesanal que deseja obter o Selo ARTE precisa ter registro no Serviço de Inspeção Oficial, que emitirá um relatório de fiscalização comprovando o atendimento às Boas Práticas Agropecuárias e de Fabricação (BPF) no estabelecimento. Após essa etapa, para realizar a solicitação do Selo, o interessado deve entrar em contato com a Cidasc e protocolar o seu requerimento, apresentando informações que demonstrem o mérito do produto quanto ao modo artesanal de produção.

Estas informações são apresentadas na forma do Memorial Descritivo do Produto, com exposição dos atributos que o caracterizam como qualificável para receber o Selo ARTE, apontando as particularidades relativas à produção ou aquisição de matérias-primas e aos métodos aplicados no processamento dos ingredientes utilizados na elaboração do produto. No documento, os aspectos relacionados ao “modo de fazer artesanal” devem ser ressaltados, para qualificar o produto alimentício como artesanal.

Requisitos para obter o Selo ARTE

Para serem considerados artesanais, no âmbito do Selo ARTE, os produtos alimentícios têm que atender aos requisitos estabelecidos pelo Decreto n.º 9.918/19.

As matérias-primas de origem animal devem ser produzidas na propriedade onde a unidade de processamento estiver localizada ou ter origem determinada e os procedimentos de fabricação precisam ser predominantemente manuais e por quem tenha o domínio integral do processo. 

É necessária a adoção de Boas Práticas de Fabricação (BPF) no processo produtivo e o uso de ingredientes industrializados tem que ser restrito ao mínimo necessário, sendo vedada a utilização de corantes, aromatizantes e outros aditivos considerados cosméticos.

As unidades de produção de matéria-prima e as unidades de origem determinada precisam adotar Boas Práticas Agropecuárias na produção artesanal. O processamento dos ingredientes tem que ser feito, prioritariamente, a partir de receita tradicional e o produto final deve ser individualizado, genuíno e manter a singularidade.

Conforme a gestora do Deinp, Alexandra Reali Olmos, a agroindústria artesanal que deseja obter o Selo ARTE precisa ter o registro no Serviço de Inspeção Oficial – Serviço de Inspeção Municipal (SIM), ou Serviço de Inspeção Estadual (SIE), ou Serviço de Inspeção Federal (SIF). O interessado deve entrar em contato com a Cidasc do seu município e protocolar a sua petição, ocasião em que receberá as demais instruções necessárias.

“Para que um produto seja agraciado, é preciso que sua produção seja predominantemente artesanal, além de a matéria-prima ser prioritariamente de origem própria, conhecida e rastreável. Também são considerados na avaliação o vínculo com a tradição e cultura locais. Por isso, o processo de análise e auditoria para certificação de Selo ARTE necessita de visitas detalhadas in loco para conhecimento das Boas Práticas Agropecuárias (BPA’s) e de Fabricação (BPF’s)”, explica Alexandra Reali Olmos, gestora do Deinp.

Clique aqui e veja a listagem dos produtos catarinenses beneficiados com o Selo ARTE.

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