Manejo, como todo produtor sabe, é parte essencial para que a produção dê bons lucros e não dor de cabeça. Para isso, é importante que o pecuarista siga alguns passos para que, durante todo o ano, seu rebanho seja saudável e obtenha os resultados esperados, seja na produção de leite ou carne. Porém, para muitos, o inverno pode ser um empecilho para este bom rendimento. A falta de planejamento e bom manejo fazem com que a estação mais fria do ano seja muito mais difícil para o pecuarista.

Quando se fala em manejo no inverno para bovinos, o que vem à mente é a dieta dos animais, que pode ser afetada pela falta de alimentos. A primeira questão em que o produtor deve pensar é em definir quais são os objetivos dele com a produção, além de respeitar as características da propriedade e os recursos que ele tem disponíveis. “Depois que tiver tudo isso bem definido, é preciso planejar o sistema de produção para atingir esse objetivo”, orienta o professor doutor da Universidade Estadual Oeste do Paraná – Unioeste, zootecnista Eriton Valente. Ele esclarece que os detalhes específicos devem ser definidos em função dos objetivos e recursos disponíveis pelo produtor.

Foto: Cristina Perito Cardoso

Valente destaca que, quando o produtor pensa em fazer um bom manejo durante o inverno, é preciso que ele saiba as diferenças que existem entre a atividade no inverno e no verão. Isso porque as pastagens que estarão disponíveis para o rebanho durante as estações serão diferentes, já que cada uma conta com características distintas. “Os fatores climáticos que mais influenciam na produção de alimentos são a água, temperatura e a luminosidade”, conta o professor. Estas características, segundo ele, são diferentes no verão e inverno, sendo que algumas vão se acentuar bastante quando é pensada em produção animal. “Estes são fatores que vão afetar o crescimento da planta durante o inverno, que estarão reduzidas nesta estação do ano, então a planta vai crescer em uma velocidade menor”, destaca.

Valente afirma que estas características são bastante visíveis quando são pensadas nas plantas tropicais, que são as mais produzidas no verão. “Elas têm uma produção muito grande durante o verão, mas quando chega o inverno há uma velocidade de crescimento muito reduzida”, afirma. Ele acrescenta que normalmente essa redução no crescimento torna-se um fator limitante para a produção de alimentos dos ruminantes, isso porque não é possível manter o mesmo sistema nas mesmas condições de produção no verão e no inverno “porque os resultados vão ser distintos”, completa.

O professor explica que quando chega o inverno é preciso que o produtor utilize algumas estratégias para compensar essa redução da produção de alimentos. “E é aí que entra o planejamento, que é um dos maiores limitantes dentro da produção de bovinos, seja de leite ou corte”, diz. Valente explica que a estratégia que vai ser adotada durante o inverno já tem que ser definida durante o verão. “O planejamento já tem que ser definido antes. Isso para a fazenda não sofrer dificuldades durante o inverno para suprimento de alimentos, para compensar essa redução de crescimento (das plantas) no inverno. Ele tem que ter uma reserva ou alguma maneira diferente de produzir alimento no inverno”, conta.

O professor destaca algumas alternativas que podem ser utilizadas pelo produtor para a produção de alimentos no inverno, para compensar a queda do crescimento de plantas tropicais. “Podemos utilizar outras espécies de gramíneas ou mesmo leguminosas que têm um desenvolvimento bom durante este período do inverno”, comenta. Valente explica que as pastagens tropicais têm uma passagem de crescimento bastante reduzida durante o inverno, mas outras plantas podem ter um crescimento acelerado, e, dessa forma, ser utilizadas de forma estratégica.

Outra estratégia citada pelo professor é o produtor adotar o sistema de criação de animais confinados ou misto, onde o animal tem parte da dieta no pasto e parte no cocho. “Dessa forma o produtor deve ter toda a preparação do alimento conservado durante o verão, como por exemplo, silagem de milho, feno, entre outros tipos de silagem”, diz. O produtor ainda pode, de acordo com Valente, utilizar outras espécies, como gramíneas e aveia no inverno. “Elas podem ser cultivadas com estratégias diferentes ou em áreas que já são de pastagem”, sugere. Valente ainda conta que é possível também cultivar algumas áreas exclusivas de gramínea de inverno, que pode ser aveia. “Existem diversas variáveis disponíveis no mercado”, afirma.

O estudioso destaca que é possível definir o correto manejo no inverno buscando estratégias. “Primeiramente é necessário fazer o planejamento, que visa a utilização de estratégias para complementar a dieta, compensando a redução do crescimento da planta no inverno”, diz. Ele reitera ser imprescindível que este planejamento seja feito ainda no verão. “Porque esta é a época que deve acontecer o planejamento, até mesmo para o produtor não ter perdas durante o inverno, seja no peso dos animais ou na produção do leite”, afirma. Porém, o que mais acontece, segundo Valente, é que este planejamento não é feito de forma eficaz nas propriedades.

Outro equívoco comum do produtor, de acordo com o professor, é que durante esta fase em que a planta está crescendo menos, no inverno propriamente dito, às vezes o produtor vai ter dentro da propriedade uma quantidade insuficiente de pasto, e coloca uma quantidade muito grande de animais sobre a pastagem, fazendo assim a colheita excessiva. “Isso também vai reduzir a reserva de plantas para os animais”, afirma. Valente explica que durante o inverno a planta já está em uma situação de crescimento lento e quando passar esta estação a planta vai demorar ainda mais para se recuperar. “Ela vai ter um efeito negativo na primavera, que é também uma fase bastante crítica. Porque, as vezes pesamos tanto na questão do inverno, mas a transição que existe entre ele para o período do verão também é uma situação crítica, muito vezes até mais, porque o produtor que não se planeja bem, as reservas de alimentos acabarão no inverno, o que também é um problema”, comenta. O professor diz que essa transição do inverno para o período mais voraz do crescimento não é tão rápida, sendo que vai levar alguns meses para a planta voltar a ter um crescimento mais acelerado. “Isso também pode causar um prejuízo dentro da produção”, informa.

Valente explica que é interessante fazer um planejamento de reserva alimentar para o período de inverno, ainda mais porque não há como prever se o inverno vai ser mais ou menos rigoroso. “É sempre interessante manter uma reserva, uma margem de erro, porque se o inverno for mais rigoroso, ele já armazenou um pouco a mais de alimento. É favorável a questão do planejamento porque as vezes as condições climáticas em alguns anos são mais desfavoráveis do que em outros para a produção de alimentos”, conta.

Doenças

Muitos produtores associam ainda o inverno ao período em que o rebanho está mais suscetível a doenças. Mas, de acordo com Valente, os maiores problemas na estação mais fria do ano estão relacionados com a dieta. Ele afirma que outros problemas que surgem estão diretamente relacionados a dieta. “Essa questão de doenças, pensando num sistema de produção dentro de uma fazenda, grande parte destes problemas estão relacionados a deficiências nutricionais. A maneira mais eficiente de prevenirmos doenças dentro da propriedade, e também acaba sendo a forma mais barata, é manter a dieta dos animais”, comenta. Para ele, esta é uma das prevenções mais eficientes do ponto de vista produtivo. Isso porque os animais quando estão bem nutridos são menos suscetíveis a doenças. “O animal está malnutrido porque faltou alimento para ele. Dessa forma, animais perdem peso e ainda ficam mais vulneráveis para contrair alguma doença”, afirma. Valente destaca que se no inverno o animal estiver malnutrido, isso vai fazer com que ele fique estressado, fazendo com que o sistema imunológico fique deficitário.

De acordo com o estudioso, se é uma fazenda que ainda tem problemas sanitários, a questão de higiene não está muito boa, mais ainda que o local terá dificuldade com doenças de forma geral. “Quando pensamos em um manejo preventivo, os primeiros pontos a se destacar são a questão nutricional, porque o animal vai ter uma resistência imunológica maior”, conta. Ele acrescenta que obviamente é preciso ter um cuidado especial com a sanidade, já que é preciso fazer o manejo de parasitas e vacinações de rotina. “Do ponto de vista sanitário é basicamente isso, não existe uma muita diferença em relação ao verão, exceto se pensarmos que no inverno normalmente é a fase que os animais estão tendo mais problema de nutrição”, comenta. Ele diz que neste caso, indiretamente, se a fazenda está errando neste manejo, o produtor acaba tendo problemas sanitários em erros que vão se acumulando.

Para Valente, o maior problema é que de forma geral, muitas vezes o produtor não consegue perceber ou identificar alguns problemas na propriedade. “Ele não consegue visualizar os problemas que está tendo. Às vezes, quando o produtor vai fazer o desembolso para comprar algum alimento, consegue visualizar qual foi o custo para adquirir o alimento, mas não consegue ver o prejuízo, porque isso já exige um grau de administração maior, com a ajuda de algum técnico, para saber quando perderia, por exemplo, se ao invés de comprado o alimento tivesse feito a conservação para o período do inverno”, explica. Ou até mesmo o fato dos animais começarem a ficar doentes/debilitados, porque o manejo alimentar não foi adequado, causa prejuízo, às vezes, não vistos. “Essa questão o produtor não consegue visualizar. Às vezes, quando morre um animal ele consegue fazer a conta. Mas, se ele tem, por exemplo, dez animais e cada um está produzindo 10% menos do que poderia, é a mesma coisa como se tivesse perdido um animal”, exemplifica.

De acordo com Valente, em função das modificações de mercado que têm acontecido nos últimos anos, as produções agrícolas têm tornado este mercado mais competitivo. “O mercado tem sido mais exigente, as margens do ano do produtor têm se reduzido. Então, qualquer erro que o produtor faz, por mais que não seja grande, pode ser decisivo. A fazenda vai estar operando com lucro ou com prejuízo”, afirma.

O professor explica que por mais que muitas vezes o proprietário não consiga fazer a conta, ele vai sentindo que vai perdendo grau de investimento na propriedade, que não está conseguindo repor os materiais e as estruturas vão sucateando. “Aí vem a necessidade de aperfeiçoar a questão de manejo, a utilização de novas técnicas para atualizar a propriedade e deixar a atividade sempre rentável e viável”, comenta.

Fonte: O Presente Rural

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