Órgãos sanitários demonstram preocupação e estão alertas para evitar que a doença chegue ao país.

A Peste Suína Africana não chegou ao Brasil, mas a presença dela no continente americano tem causado temor ao setor produtivo ligado à suinocultura, principalmente no Estado de Santa Catarina, o maior produtor e exportador do país. Tudo começou no dia 28 de julho deste ano, quando dois focos da doença foram notificados na República Dominicana, país pertencente à América Central. A situação acende o alerta não apenas no Brasil, mas também em países como Estados Unidos e Canadá, que já estão agindo para combater a entrada do vírus em seu território. A descoberta de um foco da Peste Suína Africana em um país distante é motivo de preocupação? “Sim, pois é uma doença agressiva e contagiosa, que no fim dos anos 70 foi registrada pela última vez no Caribe, chegando ao Brasil em 1978, por meio de restos de alimentos descartados de voos vindos da Europa e que foram dados a suínos no Rio de Janeiro, se alastrando pelo país, causando estragos até ser erradicada”, responde Karen Sandrin Rossi, médica veterinária da Unidade Veterinária Local da Cidasc de Campos Novos.


A entrada da Peste Suína Africana na República Dominicana ainda é uma incógnita. Há hipóteses de que ela pode ter vindo através de ajuda humanitária advinda de países da Europa, mas não há nada confirmado. A veterinária conversou com a reportagem do jornal ‘O Celeiro’, e contou sobre a preocupação dos órgãos sanitários com os prejuízos dos produtores e o risco que se apresenta ao agronegócio.


Há mais de 40 anos não havia registro da Peste Suína Africana nas Américas, e a grande preocupação com sua possível chegada é que, além de ser altamente contagiosa, ela também tem um alto grau de letalidade. “Esta é uma doença viral hemorrágica grave altamente transmissível que afeta apenas os suínos, tanto os domésticos, quanto os javalis. Pode ser que ela inicie em um único animal, mas logo atinge os demais. A mortalidade em uma granja pode passar dos 90%”, afirmou Karen. Não há vacina ou tratamento para a doença, portanto o meio mais recomendado para evitar que a peste surja é aumentar a prevenção e conscientização. Nas últimas semanas órgãos da iniciativa pública e privada, como a Embrapa, Ministério da Agricultura e Pecuária e Abastecimento, Secretaria da Agricultura e da Pesca do Estado, Udesc, Sindicarne e Cidasc se reuniram por meios de reuniões virtuais para debater o assunto, que é um problema sério ao produtor de suínos e para o mercado brasileiro, principalmente Santa Catarina, o maior produtor e exportador de produtos suínos do país.


O agronegócio é um setor de destaque no Estado, e a suinocultura tem sido um dos setores de maior crescimento, registrando no mês de julho aumento de 29% na exportação em relação ao mesmo período de 2020. Em Campos Novos, a criação de suínos também tem crescido significativamente. O cenário positivo do agronegócio neste setor pode ser afetado pela Peste Suína Africana, pois se houver a notificação de um caso no país, todos os estados correm risco de ter sua produção rejeitada, causando um prejuízo financeiro gigantesco. “A ocorrência dessa doença no país irá fechar mercados. Hoje o certificado é nacional, ou seja, se acontecer algum caso no Brasil todos os demais estados serão afetados. O alerta tem sido grande devido a perda dos animais pela alta mortalidade e também pelo impacto econômico na exportação. Nós exportamos muito, e se acontecer um caso no Brasil, mesmo que seja em outra região, irá repercutir na nossa exportação”, explica Karen.


A contaminação do animal pode acontecer através de contato com outro animal infectado, sendo o javali selvagem um reservatório perigoso, e também por meio de alimentos contaminados. A última vez que a doença chegou ao Brasil foi através de alimentação contaminada fornecida como alimento para suínos. Ciente disso, como forma de se antecipar as possibilidades, os órgãos estão atuando na fiscalização e orientação. “Estamos tomando uma série de ações para evitar que a doença chegue ao Brasil. Discutimos as medidas que cada órgão na sua competência deve fazer para intensificar as ações e evitar a entrada do vírus. O Estado também está intensificando as fiscalizações nas propriedades de subsistência, aterros sanitários e lixões”, declarou.


A Regional da Cidasc em Campos Novos já iniciou as ações de orientação em diversos locais pertinentes. “Estamos com uma ação planejada com o comércio de alimentos, a fim de conscientizar os proprietários de restaurantes. Realizamos uma reunião com o responsável do Centro de Compostagem para informar sobre a ocorrência da doença na República Dominicana e a importância do correto destino e recolhimento dos restos de alimentos nos restaurantes. Nossa missão é fiscalizar e orientar. Estamos agregando nas nossas atividades de rotina a educação sanitária sobre a peste suína africana, para que o produtor tenha um olhar atento à criação de suínos”, relatou. Karen ainda listou algumas medidas que devem ser adotadas. “Numa viagem de turismo evite visitar propriedades de criação de suínos. Não traga alimentos para o país, pois nesse momento o risco é grande de trazer algo contaminado. Quando retornar de viagem é importante lavar as roupas e calçados. Os criadores devem evitar o acesso de pessoas estranhas às granjas e propriedades. Evite o contato do javali com os suínos domésticos, mantenham as cercas bem cuidadas. Essas medidas quebram a possibilidade de riscos caso o vírus chegue ao Brasil”, alerta.


Além disso, a veterinária também ressaltou a importância dos agentes de controle e manejo de javalis selvagens, possíveis transmissores da peste suína africana. “Os agentes têm um papel importante através da caça. Porém, não se deve deixar as carcaças expostas no meio ambiente, é necessário ter um destino adequado, pois o vírus sobrevive por um longo período em carcaças. Eles também são fundamentais na colheita de sangue do javali, isso é importante pois a partir destas conseguimos fazer análises e monitorar a circulação viral nessa espécie. O sangue colhido que nos é trazido ajuda a promover uma monitoria sanitária nos javalis”, completa.


A presença do vírus no animal nem sempre é fácil de ser percebida através dos sintomas, pois no início pode ser confundido com outras doenças da rotina, como circovirose ou salmonelose. A mortalidade elevada pode demorar a aparecer e este é o grande perigo, pois a detecção precoce é muito importante e essencial. Os sintomas mais comuns são febre alta, falta de apetite e os sinais hemorrágicos, como manchas avermelhadas ou arroxeadas na pele, além de o animal apresentar um comportamento estranho. “O produtor vai perceber sinais de que o animal não está bem. A alta na mortalidade pode vir bem rápida ou não. A Peste Africana em relação a Peste Suína Clássica (que também não existe em Santa Catarina) tem uma mortalidade maior e os sintomas são mais agressivos. Em qualquer sinal de suspeita em suínos, a Cidasc deve ser comunicada imediatamente para as devidas análises e tomar as medidas cabíveis”, adverte Karen.

Crédito: Jornal O Celeiro

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