Foto: Arquivo Ascom / Cidasc

Uma das grandes preocupações do produtor desde a escolha da semente até o momento do plantio do trigo é quanto à qualidade e quantidade da produção. Diversos são os cuidados necessários que devem ser tomados para que o agricultor ofereça o melhor grão ao mercado consumidor. Para isso, é preciso que ele esteja atento a diversos fatores, como tecnologia, qualidade do produto comprado e clima, por exemplo. Estes detalhes são rotinas para o triticultor, que deve conhecer com detalhes quais as principais doenças do grão, como trata-las e o que fazer para evita-las nas futuras safras.

Para ajudar no controle sanitário, a Embrapa e parceiros do Brasil e Estados Unidos criaram um aplicativo para monitorar algumas das principais doenças do trigo em tempo real, ao redor do mundo, facilitando ao produtor na hora de decidir sobre o manejo da lavoura. O aplicativo permite o envio de alertas sobre a doença em todas as regiões do Brasil, em tempo real.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo, Flávio Santana, as principais doenças que se apresentam no trigo brasileiro são a giberela, mancha amarela, ferrugem da folha e oídio. Ele conta que do Norte do Paraná, em direção ao Norte do país, ocorre ainda a mancha marrom e brusone. “A giberela e brusone são doenças tipicamente de espiga. Já as demais são doenças foliares”, informa. Ele conta que no Cerrado brasileiro a doença mais severa, que limita a produção em até 100% de perda, é a brusone. “Ela é relativamente frequente e dependente de clima chuvoso e quente – em torno de 28°C”, comenta.

Santana confirma que as doenças que mais acometeram o trigo na atual safra foram as manchas foliares e o oídio. “Estas duas têm sido frequentes, mas com o aumento das chuvas (em setembro choveu 217 mm em Passo Fundo, RS, sendo que a média normal do mês é de 198 mm) e a elevação das temperaturas deverá haver muita ocorrência de giberela”, alerta.

O pesquisador complementa que qualquer doença de planta impacta no rendimento de grãos. “O quanto impacta dependerá de fatores como uma cultivar mais ou menos suscetível, ano mais ou menos favorável e controle com fungicida mais ou menos eficiente”, explica. No entanto, Santana diz que doenças como a brusone podem impactar em perdas de até 100% da lavoura, em anos e locais com alta favorabilidade à ocorrência da doença.

Monitoramento e olho no clima

São diversas as medidas que o triticultor pode adotar para evitar as doenças do trigo ou mesmo diminuir a incidência na propriedade e, consequentemente, reduzir os prejuízos. “Para manchas se recomenda sempre a rotação de culturas. Já para a giberela, se possível, o escalonamento de cultivares, para evitar coincidência de florescimento com período chuvoso/úmido. Para o oídio há cultivares com bom nível de resistência. Também para giberela e manchas sugere-se a escolha de cultivares com menor suscetibilidade”, recomenda.

Santana afirma que o monitoramento das doenças do trigo deve ser feito sempre, para que sejam detectados desde os primeiros sinais da doença. “Entretanto, é importante monitorar também o clima. Clima favorável significa maior risco de doença”, alerta. O pesquisador explica que o clima é determinante para a ocorrência de doenças. “Giberela depende de climas úmidos e temperaturas em torno de 25°C. Brusone depende de chuvas e temperatura em torno de 28°C. As chuvas também favorecem a ocorrência e disseminação, por respingos, de mancha amarela do trigo”, conta.

O estudioso menciona que entre as atuais tecnologias que o triticultor pode adotar para evitar doenças na propriedade estão o monitoramento, para verificar os primeiros sinais do patógeno, rotação de culturas, uso de fungicidas adequados e nas doses recomendadas pelo fabricante, uso de cultivares resistentes, além de sementes sadias ou tratadas. Ele explica que estas são ainda as formas de o produtor combater as doenças, sem a necessidade da aplicação de fungicidas. “Sem contar que utilizar uma cultivar diferente é uma boa opção para evitar estas doenças. Só não será se não houver cultivar disponível que possa ser utilizada e traga os benefícios de rendimento e qualidade desejadas pelo produtor”, afirma.

Tecnologia aliada ao produtor

O pesquisador conta que a Embrapa disponibiliza o Sisalert, um sistema de previsão de giberela e brusone. “Consultar este sistema ajuda o produtor a se preparar para uma maior ou menor necessidade de fungicidas para estas doenças”, recomenda. Além do mais, outra novidade desenvolvida pela Embrapa, em parceria com a Universidade de Passo Fundo, RS, e a Universidade do Kansas, nos Estados Unidos, foi o aplicativo “Pic-a-Wheat Field” (“fotografe um campo de trigo”, na livre tradução). O objetivo é incentivar a vigilância das lavouras e formar um banco de dados sobre epidemias de brusone do trigo no mundo.

O “Pic-a-Wheat-Field” pode ser acessado pelo telefone celular, basta baixar o aplicativo no smartphone (sistema iOS ou Android) e cadastrar um usuário. O usuário precisa ligar o GPS do celular antes de fotografar a lavoura e/ou espigas com sintomas de brusone. As coordenadas geográficas (Latitude e Longitude) serão extraídas das fotos submetidas e identificadas no mapa para uma localização no globo. Um algoritmo de banco de dados verifica a existência de uma estação meteorológica no raio de 100 km do local da foto e, caso tenha sido informado um campo de trigo com brusone, um conjunto de regras avalia a adequação do clima para ocorrência da doença.

A partir do login e senha gerados no aplicativo, o usuário pode acessar o portal picawheatfield.org de qualquer dispositivo – nos idiomas inglês, português e espanhol – e visualizar o mapa com a distribuição de lavouras de trigo com ocorrência de brusone. Para a pesquisa, o registro da ocorrência da brusone vai abastecer o banco de dados coletados ao longo dos anos, permitindo avaliar tanto a dispersão da doença quanto a agressividade do fungo a cada safra de trigo. Para o usuário, a vantagem será a interação do “Pic-a-Wheat Field” com sistemas de vigilância (como o Sisalert), que poderão alertar o usuário através de mensagens sobre o risco de epidemias nos sete dias seguintes, orientando o melhor momento de aplicação dos fungicidas para reduzir danos na lavoura.

Fonte: O Presente Rural