Natural de Rancho Queimado, na Grande Florianópolis, Carlos Sell, 40 anos, trabalhava com cerâmica até o ano passado. Graças à paixão que sempre nutriu pela lida na terra, decidiu mudar de carreira e, assim como boa parte dos moradores da região, se voltou à agricultura familiar. Por entender que deveria comercializar os mesmos morangos e hortaliças que oferecia à esposa, Bianca de Andrade, 33 anos, e ao filho Carlos Eduardo de Andrade Sell, dois anos, investiu na produção orgânica: sem agrotóxicos e em um sistema sustentável, conforme a legislação brasileira define. A partir de uma tecnologia lançada em outubro pelo governo estadual, ficará mais simples para o consumidor identificar esse tipo de manejo em frutas, legumes e verduras à venda em feiras e supermercados catarinenses. Basta que os agricultores se cadastrem no programa e-Origem, de responsabilidade da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina – Cidasc, e informem as culturas que produzem, a forma de plantio e colheita utilizados (se há alguma certificação, por exemplo) e a localidade em que estão inseridos.

Foto: Betina Humeres/ Diário Catarinense

Essas informações, além de imagens do local de cultivo, estarão disponíveis por meio de um QR code (código de barras bidimensional que é lido a partir do escaneamento feito com a câmera de um celular ou tablet) impresso junto à embalagem dos produtos. Até o momento, somente três produtores estão cadastrados no sistema, mas a expectativa é de que 15 mil também façam parte dentro dos próximos três meses.

—É bom, porque acaba sendo uma propaganda para a gente. As pessoas podem ver, por meio de uma foto de satélite, como estamos produzindo. E também podem visitar, porque aí fica fácil de achar e comprovar tudo, então passa mais credibilidade — explica Sell, que é um dos primeiros usuários do e-Origem.

Foto: Betina Humeres/ Diário Catarinense

Responsável pelas funções administrativas do pequeno negócio familiar, Bianca também comemora o acesso ao sistema e-Origem. Principalmente, diz, pelo aspecto da gratuidade do programa, que permite acesso a centros de distribuição maiores.

—As grandes redes de supermercado pedem o rastreamento. Só que a gente produz vários produtos, em pequenas quantidades e vende de forma pulverizada. Então, pelo preço que é cobrado por empresas particulares, não compensava. Agora, é possível. Vai conferir maior credibilidade para a nossa produção, além de ser mais acessível —complementa.

O engenheiro agrônomo da Cidasc, Alexandre Mees, diz que o sistema surge para solucionar a dificuldade encontrada para se chegar à origem da contaminação de alimentos com agrotóxicos. Ele ainda comprova a tendência crescente por identificação de origem dos alimentos in natura.

Foto: Betina Humeres/ Diário Catarinense

— Vamos criar um ambiente confortável e seguro ao consumidor, que poderá, por exemplo, buscar por um lote de tomate de um produtor específico. A ideia é que se conheça a produção catarinense, saiba as épocas e locais em que são produzidos e, a partir daí, possa avaliar se é possível a compra local, recebendo produtos frescos e que valorizem o produtor catarinense — acrescenta o Gestor da Divisão de Defesa Sanitária Vegetal do estado.

As informações também poderão ser utilizadas para programação de compras institucionais por escolas, prefeituras e hospitais. O rastreamento da produção, que reforça o direito ao conhecimento acerca do que se consome, está previsto em duas legislações brasileiras: na Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional e no Código de Defesa do Consumidor.

Estado produz média de 80 mil toneladas de orgânicos por ano

Uma pesquisa do Conselho Brasileiro de Produção Orgânica e Sustentável – Organis divulgada em junho deste ano revelou que cerca de 15% da população urbana havia consumido algum produto orgânico nos últimos dois meses. A região Sul ultrapassa o dobro do consumo nacional: mais de um terço das pessoas relataram ter incluído no cardápio algum legume, verdura ou fruta livre de defensivos agrícolas.

Foto: Ascom/ Cidasc

Em Santa Catarina, a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina – Epagri estima que existam pelo menos 1,8 mil produtores orgânicos que atendam a essa demanda. Contadas hortaliças, frutos, grãos, plantas medicinais e produtos de origem animal, o volume de produção varia de 70 mil a 90 mil toneladas por ano – com destaque para folhas, arroz, banana e mel.

Na visão do pesquisador de biologia de plantas cultivadas, José Afonso Voltolini, o rastreamento dessa produção é uma política pública interessante para esse segmento que, tradicionalmente, é carente nesse sentido. O professor de ciências agrárias e fruticultura na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC defende, portanto, a ampla socialização da tecnologia a fim que tanto agricultor como consumidor sejam beneficiados. Essa transparência, ele acredita, pode aproximar positivamente os dois universos.

—Vejo isso de maneira bastante positiva, porém vai depender muito de como o sistema vai alcançar os produtos agrícolas ligados, principalmente, à pequena produção e à diversidade. O consumidor precisa ter liberdade para escolher toda a gama de produção que tem aqui no estado, de forma regional e microrregional, a partir de informações da origem, forma de produção e distância, por exemplo — analisa.

Ainda de acordo com o levantamento da Organis, a associação entre alimentos orgânicos e saúde foi citada por seis em cada 10 consumidores. Nesse sentido, a estudiosa do Núcleo de Pesquisa de Nutrição em Produção de Refeições, também da UFSC, Suzi Cavalli, corrobora a importância de saber se determinado produto, in natura ou processado, tem defensivos agrícolas.

— A produção de alimentos cada vez mais se utiliza de inovações tecnológicas e insumos, com isso, houve um crescente aumento do uso de agrotóxicos. Não precisaríamos consumir alimentos orgânicos se esses agroquímicos utilizados na produção de alimentos fossem seguros e não trouxessem risco para a saúde humana. Assim, a opção por alimentos orgânicos é uma necessidade de saúde — contextualiza a pesquisadora em agroecologia e circuitos de comercialização de alimentos.

Junto ao lançamento do programa e-Origem, o estado modificou o decreto 3.657/2005, que dispõe sobre o uso de pesticidas nas lavouras.

Como funciona o e-Origem

Confira o funcionamento do método desenvolvido pela Cidasc para rastrear a produção de horti-fruti no Estado, em quatro passos:

1 – O agricultor se cadastra na plataforma e-Origem, da Cidasc, e fornece informações sobre as culturas, métodos de produção e localidade, por exemplo;

2 – A Cidasc gera um QR code para esse agricultor;

3 – O código deverá ser impresso e colado na embalagem de cada item;

4 – Em feiras e supermercados, os consumidores podem escanear o código e obter as informações, bem como visualizar imagens da localidade onde é produzido o alimento.

Fonte: Diário Catarinense

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