“Vacas cada vez mais produtivas merecem cada vez mais atenção”. O conselho é do médico veterinário Eduardo Eiti Ichikawa, que entende que prevenir doenças relacionadas à alta produtividade ainda é a melhor saída. Eduardo alerta que os avanços nos campos do melhoramento genético e da nutrição animal “têm contribuído para que tenhamos vacas leiteiras cada vez mais produtivas”. “Estes animais, cada vez mais especializados na produção de leite, demandam por consequência maiores cuidados quanto à manutenção da saúde”.

Foto: Nicole Barbieri/ Ascom Cidasc

O profissional orienta os produtores atenção redobrada no período conhecido como período de transição, fase crítica para ocorrência das doenças metabólicas, que compreende as três semanas que antecedem o parto e as três semanas posteriores ao parto.  Ichikawa cita que durante este período, o organismo da vaca de leite passa por muitas alterações, destaque para o crescimento do feto, maior nas últimas semanas que antecedem o parto, e o início da produção de leite. “As doenças metabólicas ocorrem quando a demanda ou necessidade do organismo, por cálcio no caso da hipocalcemia ou por energia no caso da cetose, não podem ser devidamente atendidas, devido a diferentes fatores”, daí o alerta para a prevenção.

No campo, o produtor já percebeu que a demanda energética da vaca durante o período de transição tende a aumentar de forma significativa, principalmente devido ao início da lactação e ao comportamento da curva de lactação, que em condições normais se mantém ascendente nas primeiras semanas pós-parto. Sobre essa necessidade da vaca, Ichikawa comenta sobre o Balanço Energético Negativo – BEN, situação em que a vaca gasta mais energia do que consome, tende a fazer com que o organismo da vaca procure utilizar reservas corporais, como a gordura, na tentativa de suprir a necessidade energética. De forma simples, quando a capacidade do fígado de transformar gordura em energia se esgota, o organismo da vaca começa o produzir substâncias chamadas corpos cetônicos. O acúmulo destes corpos cetônicos no sangue das vacas caracteriza o quadro conhecido como cetose”.

De olho nos sinais clínicos A cetose, assim como outras doenças metabólicas, pode se apresentar na forma clínica, em que são evidentes os sinais clínicos como a queda na produção de leite, falta de apetite, hálito cetônico (cheiro de acetona), tremores musculares, distúrbios visuais, ranger de dentes e decúbito, ou na forma subclínica, quando o animal encontra-se doente, mas sem sinais clínicos aparentes, sendo que neste caso, a doença é de extrema importância pelos prejuízos causados.

Vista entre os veterinários como um ladrão silencioso, a cetose subclínica preocupa tanto do ponto de vista financeiro como de longevidade da vaca. O médico veterinário explica que o percentual de vacas com cetose subclínica nas duas primeiras semanas pós-parto é muito variável, pois sua ocorrência está diretamente ligada ao potencial produtivo das vacas, manejo no período de transição e qualidade da dieta. “Vale ressaltar que o impacto negativo da cetose subclínica não se restringe somente na produção de leite, também aumentando significativamente a incidência de doenças como retenção de placenta, metrite, mastite e deslocamento de abomaso”.

Para o profissional, o balanceamento e fornecimento correto da dieta no período de transição  ajudam na prevenção. “Neste período as vacas tendem a diminuir o consumo de alimento por uma questão fisiológica e isto é um fator crítico para o aparecimento da cetose, por isso uma nutrição correta nesse período é essencial”.

Adição de ionóforos e propileno-glicol

Dois produtos têm sido frequentemente citados como alternativas potenciais para este problema, um pela capacidade gliconeogênica intrínseca (propileno-glicol) e outro pela alteração fermentativa que produz no rúmen (monensina), favorecendo a maior participação de ácido propiônico no pool ruminal.

Inclusão de niacina na dieta

O resultado do uso de niacina como suplemento apresenta-se de forma bastante rápida, sendo de grande importância para o criador, onde os animais que podem responder economicamente incluem-se os rebanhos de alta produção, vacas com balanço energético negativo, vacas com tendência a cetose, vacas secas com grande deposição de gordura e vacas com baixo consumo de matéria seca no início da lactação. Para manterem-se os níveis mais altos de niacina no parto e para minimizar a formação do fígado gorduroso, a niacina deve ser suplementada de 1 a 2 semanas no pré parto e até 10-12 semanas pós parto.

Atenção para o escore corporal

O controle de escore corporal dos animais na fase final de gestação é fundamental, alerta o profissional. “Esse monitoramento deve iniciar no período de final de lactação, quando os animais têm mais tendência a ganhar peso. Para avaliarmos esse Escore de Condição Corporal – ECC utilizamos valores de 1 a 5 (onde 1 é o animal bastante magro e 5 o animal obeso)”. Confira a tabela 1 para escore corporal recomendado para cada fase produtiva das fêmeas bovinas.

Monitoramento

O monitoramento da doença deve ser feito através de aparelhos específicos por meio da mensuração de Beta hidroxibutirato por uma gota de sangue, diagnosticando a cetose subclínica para eventuais tratamentos e diminuindo perdas econômicas. Essa mensuração deve ser realizada entre os dias 5 a 10 pós-parto. Animais com níveis acima de 1,2 mg/dl de BHBA no sangue devem ser tratados, aconselha. O principal fator a corrigir na terapia de cetose é a ingestão deficitária de alimento, retornando o equilíbrio energético.

Impacto na reprodução

Eduardo Eiti Ichikawa finaliza alertando para as implicações da cetose no desempenho reprodutivo, baseado em estudos sobre  a cetose e o retardo na retomada da ovulação dos animais. Ichikawa relata que vacas leiteiras que apresentam cetose subclínica na primeira semana pós-parto apresentaram redução de 20% na probabilidade de concepção na primeira inseminação artificial. E vacas leiteiras que apresentaram cetose subclínica nas duas semanas pós parto reduziram em 50% as chances de emprenhar na primeira inseminação artificial. Outro impacto da cetose é o aumento significativo no intervalo entre parto/concepção.  “Estudos demonstraram que animais com a doença demoraram 57,8 dias a mais para emprenhar, comparado a animais que não apresentaram cetose” finaliza.

Fonte: O Presente Rural

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