O agronegócio está mudando. A cada dia, novas tecnologias, novidades nas mais diversas áreas e novos estudos estão surgindo. O que também está mudando é o perfil de quem está trabalhando com o setor. Com grande participação em todas as atividades, a representação feminina já é de 42,4%. O dado é da pesquisa inédita sobre o perfil do trabalhador, apresentada durante o primeiro Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio, que aconteceu entre os dias 25 e 26 de outubro de 2016 em São Paulo.
A responsável pelo estudo, Adélia Franceschini, diretora de Market Intelligence na Fran6, apresentou aos participantes a realidade da mulher no agronegócio brasileiro. Com 310 mulheres entrevistadas, a conclusão que a pesquisadora chegou é de que a tendência é de crescimento da participação da mulher no agronegócio, provocando uma mudança no setor, deixando ele muito mais comunicativo, aberto a novas tecnologias e com visão holística.
Segundo a pesquisa, 60% das mulheres que trabalham com agronegócio possuem curso superior – destas 25% possuem curso de pós-graduação. “Isso é muito significativo, pois mostra o quanto as mulheres estão preparadas para colaborar na produção e como possuem entendimento na área”, destaca Adélia.
Outro ponto abordado na pesquisa é como as mulheres entraram na atividade. A pesquisadora apresentou quatro formas: processo familiar, herança programada, herança não programada e executiva. Segundo Franceschini, o processo familiar é quando a mulher já participa de uma família de produtores, se casa com alguém também da área e continua na produção. A herança programada é quando a mulher é de uma família de produtores, sai da propriedade para estudar em alguma das áreas que envolvem ciências agrárias e volta para o negócio. Já a herança não programada é quando a mulher tinha outra atividade, por vezes trabalhando em grandes centros, e recebe a propriedade como um desafio profissional. E as executivas são aquelas que desenvolvem carreiras de sucesso em organizações importantes e em empresas da cadeia do agronegócio.
A pesquisa mostra que 62% delas são casadas e 88% são independentes economicamente. “Já na participação de quem contribui mais nas despesas familiares, vimos que 14% das mulheres contribuem mais em casa do que os parceiros. Já em 12% o parceiro contribui mais, em 37% os dois contribuem da mesma forma e os outros 37% não possuem parceiro e contribuem 100% para as despesas da casa”, conta.
Comunicação
Um dado interessante apontado pela pesquisadora é que as mulheres que trabalham com o agronegócio são conectadas e contam com a rede para trabalhar a favor delas. “Elas procuram apoio no seu network. Possuem vários grupos de contato profissional e são muito ativas nas redes sociais para amparar suas decisões, balizam o que lhes é oferecido jogando na rede o que já há de conhecimento prévio”, afirma Adélia.
Segundo ela, as mulheres compartilham muito mais cotações de preço de produtos e serviços e inovações do setor, além de pedir ajuda quando encontram algum problema. “Elas não têm receio em pedir auxílio quando têm dúvidas”, pontua. “É uma característica interessante. Vemos que os homens são muito mais fechados para isso”, afirma. Para esses compartilhamentos, 80% das mulheres usam redes sociais, e destas 69% usa todos os dias. “Destas mulheres com quem falamos, 55% afirmaram que as redes e mídias sociais são importantes para a vida profissional”, conta.
Área de Atuação
A pesquisa ainda aponta em quais áreas as mulheres têm mais se dedicado. Entre as entrevistadas, “42% das mulheres participam da agricultura, 25% da pecuária, 20% da agropecuária e 13% da agroindústria”, comenta Adélia.
E das mulheres que participam da agricultura, a maioria trabalha com soja (48%), seguido de milho (42%) e hortifrúti (31%). “A atuação das mulheres reproduz a dinâmica com maior presença na produção de grãos para exportação e no hortifrúti para consumo interno”, informa a pesquisadora.
Já quando se fala na criação de animais, segundo Adélia, a bovinocultura é a principal atividade das mulheres. Entre as entrevistadas que atuam nesse setor, 70% trabalha com bovinocultura, 25% com produção leiteira, 16% com avicultura, 15% com suinocultura e 3% com piscicultura.
Descriminação
Porém, mesmo com a grande participação das mulheres no setor, ainda há aquelas que sentem que as oportunidades para homens e mulheres não são iguais. Na agricultura, 37% das entrevistadas concordam em parte que existe discriminação de gênero; na pecuária, 33% concordam plenamente; na agropecuária, 38% delas concordam plenamente; e na agroindústria 30% também concordam plenamente.
“A pesquisa nos mostra que 71% das mulheres do agronegócio já tiveram alguma experiência em que o fato de ser mulher foi uma barreira para ser ouvida, crescer profissionalmente e para se relacionar social ou profissionalmente”, destaca Adélia. Entre as barreiras apontadas nos dados, estão com empregados (43%), pares/colegas (41%) e associações/organizações (28%).
Futuro
Os dados mostram que, segundo as entrevistadas, a chave para o sucesso do agronegócio brasileiro está na genética (57%) e na rotação de culturas e pastagens (55%). Além disso, o grande desejo delas é que o negócio permaneça nas mãos da família.
“A mulher é uma figura que está e continuará mudando este perfil, além de trazer novas tendências ao agronegócio brasileiro. Ela tem o poder da transformação, já que não tem medo de tomar decisões e colocar as coisas em prática. Estamos abrindo caminho para um novo futuro do agronegócio”, finaliza a pesquisadora.
Fonte: O Presente Rural