Missão técnica do Banco Mundial esteve em Santa Catarina na primeira semana de dezembro para acompanhar a elaboração de relatório final do Programa SC Rural e iniciar contados com empresas startups com potencial para gerar tecnologias sustentáveis aplicáveis à agricultura familiar catarinense. Os contatos marcaram a etapa inicial de formalização de um Núcleo de Inovação para a Agricultura Familiar. “A ideia é aproximar diferentes atores – tanto do setor público quanto privado, não governamental – para que cada um deles possa apoiar essas pequenas e médias empresas – startups – para que elas acelerem seus processos de inovação, visando gerar tecnologias sustentáveis para o pequeno produtor”, diz Barbara Farinelli, Economista Agrícola do Banco Mundial e coordenadora da missão. Acompanhe entrevista.
P – Nesta visita um dos objetivos foi a preparação do relatório final, com os resultados e impactos do Programa SC Rural. O que é possível adiantar sobre os resultados do SC Rural?
Barbara Farinelli – “No fechamento de todos os programas do Banco nós fazemos esse relatório, que é uma auto avaliação e uma coleta de lições aprendidas. Para deixar um legado sobre os resultados do projeto, sobre o que aprendemos, para que num próximo programa, numa próxima oportunidade, a gente possa aperfeiçoar os programas junto aos governos. O programa é muito exitoso, isso já está registrado nos documentos oficiais do projeto, mas foi muito interessante trabalhar com as instituições executoras, pois por trás desse desempenho, dos números apresentados, nós estamos capturando os resultados mesmo, o legado que esses anos de investimento e de parcerias estão deixando. Eu acho que esse trabalho é muito benéfico para todos os parceiros porque a gente revisita o desempenho do programa, revisita o que funcionou e o que não funcionou. É – como eu já disse – uma ferramenta muito importante para refinar as políticas públicas, os programas públicos, e uma maneira de se comunicar com a sociedade, depois de seis anos de investimentos, mostrar quais foram os impactos e os resultados do programa”.
P – Entre esses resultados quais podem ser destacados?
Barbara – “São vários e é difícil até enumerar. Porque todas as executoras tiveram impactos muito grandes. Uma coisa que me vem à mente é, por exemplo, o caso da parceria da Epagri com a Fatma, o trabalho nos corredores ecológicos. Eles trouxeram uma série de benefícios para o estado. Basicamente é uma ferramenta muito poderosa de planejamento que foi aplicada na prática, ali foram feitos vários experimentos que podem subsidiar políticas muito importantes. E, além disso, é uma maneira de gerar renda preservando a floresta – que é uma coisa que geralmente não se consegue – porque eles fizeram o levantamento da redução das emissões e isso depois pode ser vendido em termos de carbono, na valoração através dos créditos de carbono, esse é um trabalho muito interessante. O trabalho com jovens rurais é um legado que o programa deixa que é muito, muito inovador realmente. Porque um dos problemas identificados na elaboração do projeto foi que a penosidade do trabalho e a falta de autonomia dos jovens nas pequenas propriedades faziam com que os filhos saíssem para estudar e não voltassem mais, não estavam mais se interessando pelas atividades agrícolas. Trazer os jovens, capacitá-los, motivá-los…mostrar que tem a atividade dos pais, mas há outras atividades no meio rural, mostrar gestão… então em dez anos a gente vai ver o resultado desse legado, porque muitos vão ficar, os jovens hoje tem acesso à informação, até o programa também fez a inclusão digital desses jovens. Então eles serão os vetores muito importantes de inovação, o que casa com o próximo assunto. Esse é um legado muito importante, também”.
P – Esses relatórios têm prazo para ser entregues, o Banco vai dar publicidade a eles?
Barbara – “Estamos iniciando até um pouco antes do tempo a elaboração desses relatórios, porque quanto mais cedo eles forem elaborados melhor. Porque eles são subsídios muito importantes para a gente debater uma nova proposta, o seguimento do SC Rural. Então estamos fazendo um esforço com todas as executoras, a primeira missão foi muito positiva porque a gente viu que as metas estão em dia, todas as executoras estão se preparando para capturar esses resultados e creio que até junho do ano que vem a gente vai estar com esses relatórios elaborados”.
P – Outro tema da pauta desta missão do Banco foi discutir e encaminhar a criação de um Núcleo de inovação tecnológica. Vocês vieram com uma equipe e tiveram encontros com empresas startups do estado. O que seria esse núcleo e qual é a ideia desse projeto?
Barbara – “Bem, nós viemos com uma equipe multidisciplinar: Temos o Steve Babitch, especialista em elaboração de projetos um pouco mais arrojados que os tradicionais, aqueles de “pensar fora da caixa” mesmo; o Nicolas Weber é especialista em inovação e tecnologia; temos a Vanessa Matos que é Economista e dá todo o apoio logístico, administrativo e técnico aos projetos. E temos mais uma equipe que não veio, mas nos dá apoio também em mudanças climáticas, negócios, também uma equipe multidisciplinar. Essa ideia (do Núcleo) veio porque no meio rural hoje a expansão na produção não se dá por aumento de área, se dá por ganho de produtividade. E a gente vê que para os grandes produtores – pelas necessidades que eles enfrentam em aumentar a produção, em termos de produtividade – foram desenvolvidas muitas tecnologias. Só que os pequenos têm uma lacuna de conhecimento porque muitas dessas tecnologias de ponta não chegam até eles,ou não são adaptadas a eles, além de ser muito caras.. E para o estado de Santa Catarina, especificamente, é muito importante trabalhar com esse segmento porque mais de 80% das propriedades são de agricultura de pequeno porte e muito relevantes para a economia do estado. Então a ideia é aproximar diferentes atores – tanto do lado público quanto do privado, para que cada instituição possa trazer o que tem de melhor, a sua vantagem comparativa em relação às outras, para apoiar essas pequenas e médias empresas – startups – para que elas desenvolvam, ou acelerem, seus processos de inovação e desenvolvimento de tecnologias sustentáveis para o pequeno produtor”.
P – Vocês mantiveram encontros com startups aqui em Florianópolis e em Itajaí. Qual a avaliação destas reuniões?
Barbara – “Nós fizemos várias dinâmicas de grupo com algumas startups, com pequenas empresas, e há realmente um grande potencial. Elas são inúmeras aqui no estado, mas há uma desconexão, especialmente nesse segmento em que a gente está trabalhando – porque é algo novo. Eles falam:’olha, a gente tem uma tecnologia que eu vejo agora,conhecendo vocês, a Epagri e toda essa aproximação, que tem um potencial…Mas eu não sei nada sobre esse segmento da pequena agricultura, não conheço o produtor, não conheço os hábitos dele, as necessidades dele’…Então, além de aprender quais são as dificuldades das empresas – o que esse núcleo pode ajudar as startups a crescer – nós levamos eles para conhecer os produtores. Não têm o conhecimento? Ok, vamos conhecer então os produtores! Assim, fomos visitar(com as startups) quatro diferentes cadeias produtivas: Horticultura, piscicultura, da banana e do arroz. E ali eles tiveram a oportunidade de interagir com os produtores, de entender o contexto da pequena propriedade, ao invés de ir lá vender o produto. Foram perguntar: Qual é o seu problema? Foi uma abordagem diferente, foi muito bom. E tivemos até resultados inesperados: Quatro potenciais negócios já surgiram só dessa visita….”.
P- Por exemplo…
Barbara – “Por exemplo: Na visita a um produtor de bananas perguntamos como ele fazia para conservar o solo. Ele disse que “deixava a matéria orgânica cair, as folhas e os troncos caem e com o tempo forma aquela biomassa no solo. Mas a gente já ouviu falar que existem adubos verdes que fazem essa forragem no solo, mas não conseguimos encontrar as sementes no mercado”… Aí um dos empresários disse: opa, eu faço isso! E eles acabaram trocando ideias, trocando cartões e já marcaram reuniões. Esse é o espírito do Núcleo:resolver problemas e potencializar negócios. E teve o caso na Cooper Juriti, uma cooperativa de arroz, com 700 associados, e uma pequena empresa de drones, que captam imagens das folhas durante o vôo para monitorar a saúde da lavoura, que já marcaram um experimento juntos. A empresa disse que conhece o equipamento já trabalha com diagnóstico da lavoura de soja, mas que não tem parâmetros para as lavouras de arroz. Eles vão montar uma parceria, a cooperativa vai ceder uma área e a startup vai levar as máquinas de graça, os drones, para fazer os testes e desenvolver a tecnologia de maneira conjunta. Assim, o núcleo já deu os primeiros passos, já tem resultados”.
P – Quais serão os próximos passos na formalização do Núcleo de inovação?
Barbara – “Como essa missão focou em conhecer os problemas, antes de começar a fornecer serviços – porque a gente também é uma espécie de startup – o próximo passo é traduzir os problemas em serviços e aí saber, no estado, quem são as instituições habilitadas em fornecer esses serviços. Nós já temos algumas pré-identificadas: Estivemos na Acate (Associação catarinense de empresas de tecnologia), que é uma aceleradora, ou incubadora, uma instituição quer trabalha com empresas de tecnologia que estão iniciando, a Fapesc, o Sebrae, a própria Epagri são alguns potenciais parceiros, entre muitos outros que teremos que identificar. Mas o que temos que formalizar é isso:quem são os parceiros, quais são os papéis, a governança do Núcleo – ainda não sabemos se a estrutura será uma plataforma virtual ou uma estrutura física, isso tudo está sendo construído baseado na demanda e nas necessidades do estado”.
P – A missão do Banco sai otimista com o que viu nessas visitas?
Barbara – “Muito otimista! Eu realmente me surpreendi, eu sabia que seria muito positivo pela capacidade de respostas do estado, mas as minhas expectativas foram totalmente superadas. Em cada evento surgiam mais informações interessantes. Foi muito positivo. Todo mundo saiu muito satisfeito”!
Fonte: Romeu Scirea Filho – Assessoria de Imprensa Programa SC Rural
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