Qual a importância do aproveitamento dos dejetos animais para a sociedade e para o produtor, principalmente na questão ambiental?
Os sistemas agrícolas da atualidade desenvolveram-se sem essa preocupação. Agora, como eles são economicamente sensíveis, torna-se difícil modificar toda estrutura de uma agricultura “in-out” em uma agricultura de “reciclagem”. Até as análises do LCA (Análise do Ciclo de Vida) são baseadas no princípio do “in-out” o que torna mais difícil integrar alguns fatos, como por exemplo: a maior parte da água circula, uma quantidade insignificante é exportada e o retorno do nitrogênio no solo é alto se comparado à captação de nitrogênio por plantas, etc. Entretanto, as pessoas estão ansiosas e as Organizações Não-Governamentais estão lutando para promover novos sistemas agrícolas.
Como estão as pesquisas em relação reaproveitamento dos dejetos e como vem desenvolvendo esse trabalho?
A maior parte das pesquisas foca-se na transformação de resíduos em produtos valiosos. Entretanto, há dois anos, nós mostramos que o processamento dos materiais coletados deve determinar a forma da coleta. Além do mais, a viabilidade econômica determina a capacidade para mudar a reciclagem em uma escala regional. Atualmente existe um trabalho crescente para melhor entender o comportamento de matéria orgânica nos solos.
Como é essa realidade na França e na Europa?
Tratar primeiro, reutilizar às vezes, e limitar as transferências de poluição durante os processos de tratamento.
Quais os resultados desses estudos para o produtor rural?
A prioridade ainda é produzir enquanto o desempenho ambiental não ajuda a melhorar a receita do agricultor.
Poderia falar um pouco sobre o desenvolvimento do biogás na França, a história e como funciona em seu país?
A pesquisa sobre o biogás foi desenvolvida nos anos 70. Então foi interrompida por causa dos preços baixos da eletricidade e combustíveis. Várias fábricas fecharam motivadas pela falta de desenvolvimento econômico. O interesse surgiu novamente nas últimas décadas, primeiro pelos biodigestores líquidos e agora com biodigestores líquidos e sólidos. A maioria dos estudos mostra que apenas algumas fábricas grandes devem ser construídas enquanto pequenas fábricas (produção de calor sem conversão de eletricidade) poderiam gerar energia renovável para uma série de fazendas.
Qual a porcentagem de gases emitidos pela agricultura francesa?
Cerca de 20%, mas esta porcentagem deve aumentar nas próximas décadas seguindo a desaceleração no setor industrial, assim como nos setores dos transportes de construção. Se a atual tendência continuar, a agricultura deve ser a principal emissora por volta de 2050.
É possível analisar perspectivas para o futuro no quesito do reaproveitamento dos dejetos animais?
Com certeza! Por uma simples razão: a massa de material seco em resíduo animal é pequena se comparada à massa de um produto animal. Os fertilizantes contidos nos resíduos animais são inferiores aos fertilizantes necessários para produzir alimentos para animais. Então, a questão seria mais sobre a organização da atividade agrícola para que essa se torne mais eficiente. Pessoalmente, acredito que as técnicas estão disponíveis, mas não são utilizadas por não serem tão rentáveis se comparadas ao lucro gerado pela produção animal. A transformação poderia ser acelerada por meio da oferta de um novo modelo econômico aos agricultores. Deve-se tornar a eficiência realmente rentável (não apenas produção), por exemplo, o salário dos agricultores e trabalhadores rurais deveria dobrar quando eles atingissem o topo dos 5% dos agricultores mais eficientes por quilo de fibras, combustíveis, alimentação ou alimentos produzidos.
Como é a relação entre o INRA e o Brasil?
Temos colaborado com o pesquisador da Embrapa Aves e Suínos, Paulo Armando Oliveira, desde 1996. Temos uma boa e produtiva relação. Recentemente o Brasil foi um dos principais países envolvidos no projeto Animal Change European. Existem trocas regulares envolvendo pesquisadores da ciência do solo, biodiversidade, produção animal e, no nosso caso, habitação animal e emissões de gases.
Veja mais: Neste link