Reportagem do jornal Hora de Santa Catarina.
Envolto em um cobertor, o bezerro que ganhou o nome de Paixão recebia das mãos de duas ativistas leite de vaca comprado de outra propriedade, além de muito carinho. A vaca mãe está seca e sem forças, assim como outros 25 bovinos resgatados no último sábado de uma propriedade rural em São José.
Largados à própria sorte, totalmente desnutridos, sem pasto, sem abrigo e sem água. Foi nessas condições que um grupo de ativistas encontrou os animais no dia 27 de outubro no bairro Alto Forquilhas, após denúncias de vizinhos em redes sociais.
Fiscais da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina – Cidasc, acompanhados da Polícia Militar Ambiental, estiveram no local e notificaram o proprietário, que teria um prazo de 30 dias para providenciar melhoras, mas o grupo de protetores resolveu não esperar pelo pior, entrou com uma ação na Justiça e conseguiu uma liminar para remover o gado. A operação envolvendo caminhões foi feita totalmente por voluntários e um deles também cedeu um novo espaço para os bichos se recuperarem.
“Quando chegamos lá encontramos uma situação horrível. Vários animais mortos, carcaças antigas, ossos e urubus comendo algumas vacas vivas que não tinham forças para reagir. Na hora já percebemos que eles não iriam viver mais nem um dia se continuassem naquela situação e começamos a correr atrás para achar um lugar para eles”, conta Mônica Probst, uma das voluntárias.
Com a mobilização, foi encontrado um lar temporário em Biguaçu para que os animais recebam os primeiros cuidados. Na manhã de sábado, voluntários conseguiram fazer o transporte de 27 deles, mas estimam que havia ao menos 70 no local. De acordo com a ativista Geórgia Faust, que veio de Blumenau para ajudar na ação, 20 bois foram retirados do terreno na madrugada de sexta-feira, depois que houve a denúncia:
“Desconfiamos que foi o próprio dono. Depois disso, ficamos em vigília no lugar até o transporte. O que os vizinhos nos falaram é que o homem deixou os animais lá, que até apareceram pessoas interessadas em comprar, mas ele pedia um valor muito alto e disse que se fosse pra vender barato preferia então deixá-los morrer”, conta.
O resgate animal chamou a atenção da comunidade e em pouco tempo apareceram muitas pessoas para ajudar. Nas redes sociais, a página criada Bois de Forquilhas — São José ganhou mais de mil curtidas em quatro dias. Agora, o grupo de protetores conta com a solidariedade da população e apoio um dos outros para evitar que mais animais morram.
“Precisamos de muita ajuda, pessoas que possam vir aqui para auxiliar com a alimentação, feno, medicação, soro, veterinários, tudo que for possível. Criamos uma vaquinha virtual, o custo para manter este animais por um mês é de cerca de R$ 20 mil até que eles estejam bem e possam futuramente ir para algum santuário. Pelo menos estes para abate não vão mais”, finaliza Geórgia.
Proprietário será multado e poderá responder criminalmente
O dono dos animais foi autuado pela Cidasc e poderá responder por maus-tratos animais. De acordo com a veterinária da Cidasc, Maria Aparecida Bello, um processo está sendo aberto no órgão separadamente da Polícia Ambiental.
“Os animais não tem nenhum indício de doença, estão desnutridos. Já passamos as orientações para os voluntários e vamos fazer o acompanhamento”, disse.
O capitão Felipe Dutra, da Polícia Ambiental, explica que assim que receber o laudo da Cidasc comprovando os maus-tratos irá proceder o auto de infração, uma multa entre R$ 500 e R$ 3 mil por animal, inclusive os mortos, além de encaminhar a denúncia criminal para o Ministério Público.
A reportagem não conseguiu contato com o dono do gado.