Sabemos que a nutrição inicia com a ingestão do alimento, mas somente será efetiva se a digestão e a absorção dos nutrientes forem eficientes. A energia é um dos mais importantes componentes de custo para a produção de animais de alto desempenho. Devido à sua elevada densidade energética, gorduras e óleos são as fontes de energia mais importantes na formulação de dietas para animais. Melhorar a eficiência energética e digestibilidade dessas matérias primas é de grande interesse do ponto de vista econômico. Emulsificantes nutricionais podem ser utilizados para melhorar a digestibilidade de gordura e óleos e assim melhorar a eficiência energética da dieta. Isto irá resultar em menor custo de alimentação, contribuindo para a produção animal mais econômica e sustentável.

Foto: Jamil Correia da Silva Júnior

Foto: Jamil Correia da Silva Júnior

Todos os emulsificantes apresentam como característica em comum o fato de serem moléculas ampifílicas, ou seja, a mesma molécula apresenta uma porção polar, solúvel em água, também chamada de porção hidrofílica, e uma porção apolar, insolúvel em água, também chamada de lipofílica. Segundo a legislação vigente (Portaria nº 540 de 1997), emulsionante/emulsificante é a substância que torna possível a formação ou manutenção de uma mistura uniforme de duas ou mais fases imiscíveis. Os sais biliares são os emulsificantes naturais, os monoglicéridos, formados no intestino após a hidrólise de gorduras e óleos também atuam como emulsificantes. No entanto, a capacidade destes emulsificantes naturais pode ser o fator limitante para a digestibilidade das gorduras. Animais jovens têm produção limitada de sais biliares e, por consequência, a digestibilidade de gordura é limitada nas fases iniciais da vida. Além disso, as características da gordura da dieta e a quantidade de gordura adicionada pode restringir a digestibilidade. Diferentes características de gordura e óleo explicam diferenças na digestibilidade dos ácidos graxos saturados (encontrados principalmente na gordura de origem animal), que são menos digestíveis em comparação com os ácidos graxos insaturados (gordura de origem vegetal). Níveis elevados de ácidos graxos livres também limitam a digestibilidade. A utilização de um emulsificante nutricional é a ferramenta mais eficaz para melhorar a digestibilidade de gordura e óleos. Obviamente, o efeito positivo da adição de tais emulsificantes é mais pronunciada para as gorduras e óleos menos digestíveis, mas também tem efeitos desejáveis em gorduras e óleos de elevada/alta digestibilidade (como o óleo de soja).

Para classificarmos um emulsificante em tecnológico ou nutricional, de acordo com sua especificidade, existe o conceito de Balanço Hidrofílico-Lipofílico (Hydrophilic-lipophylic Balance ou HLB). Leva em conta a solubilidade do emulsificante em óleo ou em água e é variável de 0 a 20. O emulsificante sempre deve ser solúvel na fase contínua para melhor eficiência na formação de micelas (misturas: água-óleo ou óleo-água). Devido ao fato de que os animais consomem duas vezes mais água do que ração, o intestino é um ambiente aquoso. O objetivo de um emulsificante nutricional é otimizar a emulsificação formando micelas (óleo em água) no intestino, e por isso um emulsificante com HLB alto é o mais eficiente.

Existem no mercado diferentes tipos de emulsificantes que podem e são utilizados em processos (emulsificantes tecnológicos) ou emulsificantes com objetivo de melhorar a digestibilidade de gorduras e óleos (emulsificantes nutricionais). O primeiro e pioneiro é a lecitina, emulsificante natural, extraído através do refino de óleo de soja, é composto por uma mescla de fosfolipídios (50%), triglicerídeos (35%) e glicolipídios (10%), carboidratos, pigmentos, carotenoides e outros microcompostos, possui baixo HLB (6 – 8), sendo mais indicado para processos tecnológicos, como peletização, produção de emulsificados, como margarinas, maioneses e molhos, por atuar na formação de micelas. A segunda geração de emulsificantes se origina pelo tratamento enzimático das lecitinas, a qual dá origem às lisolecitinas (transformação de fosfolipídeos em lisofosfolipídeos). Através deste processo industrial, o HLB das lisolecitinas se torna intermediário (8 – 12), dando origem a um emulsificante intermediário, por muitas vezes solúvel em óleo e outras vezes solúvel em água, sendo sempre dependente de seu processo de produção, sua indicação como emulsificante nutricional, assim como seu HLB é variável (500 g a 1,5 kg/t de ração), podendo ainda ser utilizado como emulsificante tecnológico. A terceira geração de emulsificantes disponíveis no mercado é considerada 100% nutricional. Produzidos através de processos industriais e com alto HLB (> 16), os ricinoleatos foram desenvolvidos para complementar os emulsificantes endógenos, sais biliares cujo HLB é de 18. Estes emulsificantes, devido ao seu alto HLB e sua alta solubilidade em água, permitem menores dosagens (350 g/t) com efeitos tanto em gorduras e óleos insaturados como saturados.

Estudos recentes comprovaram o incremento na energia metabolizável de 80, 74 e 75 kcal/kg (p<0,05) quando o emulsificante de terceira geração, ricinoleato, foi utilizado em dietas de frangos de corte (350 g/t) com 4% de inclusão de óleo de soja; óleo de visceras ou o mix 2% óleo de soja + 2% óleo de vísceras, respectivamente.

Fonte: O Presente Rural.