Para entender e identificar os mecanismos de resistência dos fungos causadores de doenças da soja, a Bayer iniciou, em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), um estudo sobre a sensibilidade dos fungos causadores da ferrugem asiática e mancha alvo a fungicidas. Essa é a segunda pesquisa realizada pelas duas instituições juntas após o acordo de cooperação de estudos voltados à agricultura, assinado em maio de 2016.

Foto: Vinicius Morales Porto

Foto: Vinicius Morales Porto

No estudo intitulado “Ferrugem asiática e mancha-alvo da soja” a Embrapa terá uma equipe especializada, que atuará dentro das áreas experimentais determinadas para a pesquisa. Os especialistas da Bayer focados no tema trabalharão em conjunto com os profissionais da Embrapa, em todas as etapas experimentais do projeto.

Segundo o gerente de Desenvolvimento Avançado de Fungicidas da Bayer, Rogério Bortolan, os fungos que serão estudados são agentes causais da ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi) e da mancha alvo (Corynespora cassiicola), doenças que possuem alto potencial destrutivo no cultivo de soja. Elas podem resultar em perdas de rendimento de até 80% da safra e aumento de custos aos agricultores.

O foco central é identificar os mecanismos de resistência desses microrganismos aos principais grupos de fungicidas utilizados no controle de doenças da cultura. Isso possibilitaria anteciparmos a adoção de estratégias antirresistência às nossas soluções. “Esperamos conseguir vários resultados, como a obtenção do genoma (conjunto de genes) de referência do P. pachyrhizi, a identificação de pontos de mutação em sequências específicas do genoma, a identificação de mecanismos de resistência e a ocorrência de perda de sensibilidade dos fungos aos produtos utilizados na cultura da soja no Brasil. Também vamos mapear áreas produtoras com risco potencial de desenvolvimento de resistência aos fungicidas”, conta.

“Teremos cinco anos para entender melhor os mecanismos de resistência aos fungicidas, por meio do mapeamento genético dos fungos. Com o genoma em mãos, poderemos entender como a perda de sensibilidade ocorre, antecipar estratégias de manejo antirresistência e desenvolver soluções mais eficazes para esse controle”, explica Bortolan.

O sequenciamento genético de P. pachyrhizi é um grande desafio assumido neste projeto, considerando o tamanho e a complexidade do seu genoma. Ao menos uma tentativa anterior de sequenciamento e montagem do genoma do fungo foi fracassada. “Entretanto, para avançarmos no desenvolvimento de novas ferramentas para controle da ferrugem-asiática, o sequenciamento é de fundamental importância”, ressalta o pesquisador Maurício Meyer, da Embrapa.

O sequenciamento do genoma de P. pachyrhizi terá como base um antigo isolado do fungo, que possivelmente sofreu menor pressão seletiva decorrente pelas sucessivas aplicações de fungicidas. Posteriormente, serão ressequenciados partes do genoma de isolados coletados no Brasil e em outros países, ao longo da última década, com diferentes perfis de virulência e sensibilidade aos fungicidas. “Ao obtermos o genoma de referência do fungo seguido do ressequenciamento dos diferentes isolados, esperamos decifrar a biologia do fungo e entender sua complexa interação com as plantas hospedeiras, além de ampliar nossa compreensão sobre sua adaptabilidade, evolução e diversidade genética”, explica a pesquisadora da Embrapa Soja Francismar Marcelino, responsável por esta etapa do projeto. “Os resultados do projeto deverão beneficiar toda a cadeia produtiva”.

Ao todo, participam do estudo sete pesquisadores da Bayer e 17 da Embrapa. As pesquisas e testes serão realizados na sede da autarquia, em Londrina (PR), mas colaboradores do time de Desenvolvimento da Bayer, sediados em Monheim (Alemanha) e Lyon (França), também estão envolvidos no projeto. “Faremos, ainda, o mapeamento de regiões produtoras de soja no Brasil, recebendo amostras de fungos desses locais, para analisar como eles se comportam em ambientes diferentes. Com isso, poderemos estabelecer técnicas de manejo customizadas para os produtores de cada região”, acrescenta Bortolan.

Nessa etapa do estudo, pretende-se mapear as áreas produtoras de soja no Brasil com risco potencial de desenvolvimento de resistência a fungicidas. “Se for identificada que a frequência das mutações genéticas nos fungos aumentou muito em determinada região, é um indicativo de que a pressão para aquele grupo de fungicidas é maior na região em questão. Isso serve de alerta para antecipar a adoção de medidas antirresistência e evitar a perda de eficiência dos fungicidas”, avalia o pesquisador Maurício Meyer, da Embrapa.

De acordo com o diretor de Desenvolvimento Agronômico da Bayer, Bernard Jacqmin, o estudo caminha para solucionar um grande desafio da indústria hoje: garantir a sustentabilidade das ferramentas que existem para o controle da soja.

“Essa cooperação com a Embrapa será essencial para que possamos aprofundar os estudos genéticos dos fungos e entendermos como a resistência se desenvolve, depois de repetidas aplicações dos fungicidas. Ao contar com uma instituição como esta, a Bayer terá respaldo para apresentar as recomendações que surgirão com as pesquisas ao setor e aos produtores, principalmente na hora de implementá-las no campo”, conclui Jacqmin.

Os danos causados pela ferrugem asiática, por exemplo, podem resultar em perdas de rendimento de até 80%. Somente no país, as perdas desde o surgimento da doença, em 2001, são estimadas em US$ 2 bilhões por safra, segundo o Consórcio Antiferrugem e a Embrapa Soja.

Fonte: O Presente Rural.