O uso prudente e sustentável de antibióticos engloba uma série de recomendações e atitudes, em que o veterinário é o ponto chave no sentido de ordenar e normatizar o uso racional e adequado no setor de produção, visando evitar o aparecimento de resistência bacteriana, maximizar a eficácia dos produtos usados e prevenir a presença de resíduos acima de limites toleráveis em produtos de origem animal para o consumo humano. Os antibióticos podem ser administrados por três diferentes vias: injetável, via ração e via água de bebida.

Foto: Monica Pohlod

Foto: Monica Pohlod.

Todas as vias de administração citadas acima possuem vantagens e desvantagens. O uso de antibióticos injetáveis traz as seguintes vantagens: rápido efeito, grande gama de medicamentos disponível, facilidade de identificação dos animais medicados, reduzindo o risco de resíduos, tratamento específico aos indivíduos doentes ou aos indivíduos com sinais clínicos de determinada infecção.

O uso dos antibióticos injetáveis requer do veterinário uma série de informações, dentro delas destaco a tríade do tratamento medicamentoso: antibiótico, agente infeccioso (bactéria) e condições do animal. Na escolha do antibiótico, devemos considerar o espectro de ação, características farmacocinéticas e farmacodinâmicas, eficácia, carência e segurança para a cadeia alimentar. Ter informações sobre o agente infeccioso através de exames clínicos e laboratoriais e cruzar estas informações com as condições de saúde, manejo e status de imunidade do indivíduo, do lote e do rebanho faz parte das boas práticas. Desta forma, as boas práticas no uso dos antibióticos injetáveis considera os aspectos clínicos, econômicos e sanitários do sistema de produção como um todo e sempre busca um diagnóstico para estabelecer o tratamento a ser realizado.

Um tratamento antibiótico terapêutico pode ser administrado para o indivíduo, para um grupo de animais que apresentem os sinais clínicos da doença ou em todo o lote, quando houver a expectativa de que os outros animais possam desenvolver a infecção. O objetivo deste tipo de tratamento é eliminar o agente causador da infecção, seja de manifestação clínica, subclínica ou assintomática. Sempre é melhor medicar o animal no início do processo infeccioso. O suíno demonstra isto mudando seu comportamento, fica em estado de letargia, deixa de interagir e diminui o consumo de ração. Quando aplicamos o antibiótico no estágio mais avançado da infecção, quando os sintomas clínicos são mais evidentes (por exemplo, febre, tosse acentuada e dificuldade respiratória), você até impede ou adia a morte do animal, mas a perda zootécnica e a disseminação do agente infeccioso já ocorreram, aumentando a pressão de infecção no lote, aumentando as chances de ocorrer um surto, por isso o tratamento via água ou ração é inevitável.

É fundamental sabermos das condições de armazenamento que o antibiótico foi submetido. O simples armazenamento em um armário sem considerar a temperatura recomendada pelo fabricante, exposição ao sol e à poeira, entre outros cuidados, podem interferir na eficiência do produto. Seguir as recomendações do fabricante e considerar as informações de bula (composição, indicações, via de administração, modo de usar, dosagem, advertências, contraindicações, precauções, efeitos colaterais, interações medicamentosas e condições de armazenamento) são fundamentais para as boas práticas. A aplicação intramuscular é a via administração mais recomendada para os antibióticos injetáveis na suinocultura. Aconselha-se aplicar o medicamento na musculatura lateral do pescoço, uma vez que nessa região existe uma camada muito fina de tecido gorduroso subcutâneo. O local ideal para aplicação é cerca de 10 cm posterior à base da orelha com introdução da agulha perpendicular à tábua do pescoço. A contenção adequada do animal é muito importante para garantir uma aplicação segura e eficaz.

As seringas podem ser metálicas, de plástico ou de vidro. As agulhas devem ser feitas de aço inoxidável adequadamente temperado, bastante fortes para que não quebrem com facilidade, devem ser suficientemente rígidas para não oscilar e não entortar, devem ser afiadas e devem ser adequadas para sua via de aplicação.

Imediatamente após o seu uso, seringas e agulhas devem ser separadas, desmontadas, limpas, submetidas à fervura pelo período mínimo de dez minutos ou descartadas. Na aplicação de rebanhos ou lotes, devemos considerar que agulha é uma importante fômite, por isso é recomendado a troca após a aplicação de oito a doze animais.

O uso de antibióticos injetáveis é muito importante para o setor de produção animal. Mesmo em um contexto de medicina veterinária populacional, cada vez mais o indivíduo terá mais importância. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, Brasília/DF) já restringiu totalmente o emprego de uma série de substâncias na alimentação animal, caso da avoparcina, arsenicais e antimoniais, cloranfenicol e nitrofuranos, olaquindox, carbadox, violeta genciana, anfenicois, tetraciclinas, beta-lactâmicos (benzipenicilâmicos, cefalosporinas), quinolonas, sulfonamidas sistêmicas, espiramicina e eritromicina. Recentemente, tem sido discutido o papel das medicações injetáveis como forma de reduzir o uso em massa e intensivo de antibióticos por via oral.

Existe uma grande variabilidade na ingestão individual de um antibiótico via água ou ração. Quando empregamos boas práticas na utilização de antibióticos injetáveis, diminuímos drasticamente os erros de dosagens e mudamos os parâmetros de avaliação dos resultados que tinham como foco a média do lote. Agora tratamos cada indivíduo como parte de uma distribuição, antecipamos e tratamos um mínimo de suínos, diminuindo os tratamentos populacionais. Assim, diminuímos os custos e aumentamos a eficiência. Isto é o futuro que já sendo construído hoje. Isto é medicina veterinária de precisão.

Artigo escrito por André Maurício Buzato, médico veterinário especialista em Sanidade Suína.

Fonte: O Presente Rural.