Um grupo de pesquisadores liderados pelo entomologista da Epagri Leandro do Prado Ribeiro identificou em Santa Catarina uma nova praga que infesta pastagens de grama-bermuda (Cynodon dactylon), especialmente o cultivar Jiggs. Trata-se da mosca-da-grama-bermuda Atherigona (Atherigona) reversura Villeneuve, 1936 (Insecta, Diptera, Muscidae), espécie até então não relatada na América do Sul.

(A) Danos em plantas de Cynodon dactylon cv. Jiggs; Atherigona reversura; (B) larvas do inseto; (C) pupário; (D) inseto adulto. Foto: Ribeiro et al. (In press)

(A) Danos em plantas de Cynodon dactylon cv. Jiggs; Atherigona reversura; (B) larvas do inseto; (C) pupário; (D) inseto adulto. Foto: Ribeiro et al. (In press)

A praga, encontrada em abril de 2015 em pastagens de Abelardo Luz, Chapecó, Palmitos e Videira, nas regiões Oeste e Meio-Oeste do Estado, foi analisada, inicialmente, no Laboratório de Entomologia do Centro de Pesquisa para a Agricultura Familiar (Cepaf) da Epagri, em Chapecó. Com base em características morfológicas (genitálias de machos) e análises moleculares baseadas na amplificação do gene mitocondrial citocromo oxidase I (COI), ela foi identificada pelos pesquisadores da Epagri com a colaboração do professor Claudio de Carvalho, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e da professora Kirsten Lica Haseyama, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A mosca-da-grama-da-bermuda coloca seus ovos nas plantas e, quando eles eclodem, as larvas se alimentam dos perfilhos (brotações) da pastagem. “A morte das folhas apicais de perfilhos infestados é decorrente do dano no tecido vascular, que conduz a uma redução significativa no crescimento das plantas, reduzindo a produção de biomassa de forragem em áreas já estabelecidas e dificultando o estabelecimento de novas áreas com espécies vegetais hospedeiras do inseto-praga”, explica Leandro.

Segundo o pesquisador, esse inseto ocorre em diversos países do hemisfério Oriental e da região da Australásia. Em 2010, foi detectado no Sul da Geórgia, nos Estados Unidos e, mais recentemente, foi encontrado no Sul do México. “Embora a porcentagem de perfilhos danificados seja variável de acordo com o cultivar, a praga causou uma diminuição média de 7,7% da biomassa seca total de diferentes cultivares de Cynodon e perdas significativas na qualidade da forragem produzida em estudos conduzidos nos Estados Unidos”, conta. No entanto, Leandro ressalta que o inseto tem maior preferência pelo cultivar Jiggs em virtude de características morfológicas estruturais da planta (perfilhos mais tenros) que favorecem o desenvolvimento da praga.

Os cultivares de pastagem atacados pela mosca-da-grama-bermuda são amplamente utilizados em todas as regiões de Santa Catarina por conta de sua produtividade e adaptação às condições de clima e solo do Estado. Estima-se que cultivares de grama-bermuda sejam utilizados em pelo menos 70% das propriedades produtoras de leite do Estado.

De acordo com Leandro, a hipótese mais provável é que a praga tenha entrado no Estado com a importação de material propagativo (mudas) de pastagens. Em visitas a outras regiões catarinenses, o pesquisador identificou que o inseto já está espalhado no território barriga-verde. “É cedo para dizer quais serão os efeitos dessa praga no Estado. Ela pode se alastrar e causar prejuízos ou ter inimigos naturais que vão ajudar a contê-la”, explica.

A próxima etapa, que envolve a Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), é monitorar a praga para avaliar sua dispersão e seu estabelecimento em Santa Catarina e, então, estudar a necessidade de adotar de estratégias de contenção e controle. A Epagri está envolvida no treinamento de técnicos desses dois órgãos.

Mais informações:
Leandro do Prado Ribeiro
Entomologista da Epagri/Cepaf
Chapecó
Fone: (49) 2049-7563/(49) 9926-2756
E-mail: leandroribeiro@epagri.sc.gov.br.