abelha-revista-1O Brasil registrou produção de mais de 35 mil toneladas de mel no último ano e há uma profissionalização do setor, porém o papel das abelhas no ecossistema vai muito além. Elas são responsáveis pela polinização e consequente produção de alimentos

As abelhas estão morrendo e sumindo em todo o mundo e alguns questionamentos precisam ser feitos: elas estão sendo acometidas por doenças? Os envenenamentos estão causando uma queda na imunidade e, por isso, elas ficam suscetíveis?
As pesquisas têm demonstrado que o uso de agrotóxicos e, principalmente, de neonicotinoides produz nas abelhas um quadro que poderíamos comparar com o do Alzheimer. Elas ficam desmemoriadas, perdem o rumo e não sabem voltar para casa. Também os transgênicos têm sido uma preocupação, pois mostram problemas para as abelhas que visitam essas flores; mesmo assim, vêm sendo aprovados para plantio.

Cabe aos médicos veterinários e zootecnistas dar sua contribuição para que as abelhas possam viver com saúde e, com isso, externar seu potencial tanto na produção de mel, pólen, própolis, geleia real, cera e apitoxina quanto na polinização, que proporciona a abundância de alimentos.

Fonte: Revista CFMV

Fonte: Revista CFMV

A maior parte da vegetação existente no planeta depende das abelhas total ou parcialmente para se reproduzir, para aumentar sua produção e até para dar melhor forma aos frutos. Entre as espécies mais importantes, destacamos a Apis para exploração comercial (apiários) e as nativas, também conhecidas como sem ferrão, cuja exploração vem aumentando, sendo muito importantes para a manutenção da biodiversidade.

Para os profissionais que se preocupam somente com a produção de bovinos, aves, suínos e equinos, faz-se o alerta de que os grãos e pastagens também são visitados pelas abelhas e muito beneficiados pela sua presença, aumentando significativamente a produção desses alimentos. Nesse sentido, Milfont (2012) demonstra que, com a introdução da Apis mellifera na lavoura de soja, houve um acréscimo de 36% na produção.

Colmeia deve ser vista como um organismo
A organização das abelhas é denominada colônia quando o enxame está completo, com rainha, zangões (machos) e operárias, já a colmeia refere-se à habitação em uma caixa de produção, sendo a ordem social estabelecida pelo feromônio da rainha. Quando olhamos para uma colmeia, temos que considerar um único organismo, um animal, sendo cada abelha uma célula daquele organismo; compreendendo isso, fica mais fácil estudá-la.

Como no organismo de um mamífero, que tem células com diferentes funções, na colmeia, abelhas de diferentes idades (castas) desempenham funções específicas: fazem limpeza, produzem cera, alimentam as crias, buscam o néctar, o pólen e a água ou são nutrizes, acompanhando e produzindo geleia real para alimentar a rainha, que é a única que nasce e morre com a mesma função. A vida das operárias tem um ciclo de até 40 dias, já a rainha pode passar de dois anos.

Conhecer o comportamento desse animal e cada fase (idade), desde o ovo, é importante para o profissional saber se há a instalação de uma doença, qual é essa enfermidade e se é uma infestação ou infecção. A doença decorre de um desequilíbrio na tríade epidemiológica: hospedeiro, ambiente e agente, e pode provocar manifestações clínicas que resultam em reflexos na produção, como também se apresentar de forma subclínica, podendo causar a disseminação entre colmeias.

Diferencial da produção brasileira está na genética e no manejo sanitário

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Foto: Ana Maria de Andrade Mitidiero

Os pesquisadores brasileiros produziram muita informação sobre o comportamento e a genética das abelhas africanizadas, apesar de poucos recursos. É extremamente importante que as ações de manejo sanitário e controle das doenças sejam realizadas segundo as pesquisas locais, uma vez que elas apontam, muitas vezes, a presença de infestações/infecções, que podem não causar prejuízo produtivo/reprodutivo.
É necessário empenho dos órgãos oficias para estruturar suas equipes de sanidade das abelhas nos estados, com o intuito de mapear a real situação sanitária do país, para que, com o apoio das instituições de pesquisas, se tenham subsídios para encaminhar uma proposta à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), com normas adequadas às abelhas africanizadas, uma vez que as vigentes são baseadas em estudos de comportamento e infestação/infecção com as raças europeias.

O mel do Brasil é muito procurado e valorizado, porque, além das suas características organolépticas, é isento de medicamentos, pela proibição de uso, o que o torna muito disputado no mercado. De fato, pesquisas têm mostrado que não necessitamos de medicamentos, pelo comportamento e resistência das nossas abelhas. Ademais, a profissionalização da produção, pelo melhoramento genético na produção de rainhas e pela utilização de técnicas disponíveis, começando por um bom manejo sanitário, dispensa o uso desse recurso.

O país é um grande produtor de mel orgânico e, com mais profissionais com conhecimento e dedicação na área, poderá elevar sua produção, não só de mel, mas de todos os produtos das abelhas.
Para ter o controle sanitário da movimentação das colmeias entre apiários e/ou meliponários, é necessária a Guia de Trânsito Animal (GTA). Sua emissão é possível a partir do cadastro, no qual consta, principalmente, onde está localizada a exploração; essas informações ficam armazenadas e, no caso de uma enfermidade, pode-se rastrear sua origem e aplicar as medidas necessárias para controle e/ou erradicação da doença.

Existe um tipo de exploração na criação de abelhas – migratória — em que as colmeias são alugadas para os produtores, principalmente de frutas, para fazer a polinização. Elas ficam no local por um período e depois retornam para o apiário; por isso, é fundamental interagir com a área vegetal, saber o que e como utilizam a lavoura e compreender a importãncia da GTA, para vefificar se a colmia foiou voltou doente da produção.

Movimentação de colmeias e seus impactos

Os cuidados com o transporte são importantes, por isso a necessidade de conhecer o comportamento das abelhas. O melhor horário para o transporte é a partir do pôr do sol, pois elas têm hábitos diurnos. Para proteger quem manipula as colmeias, deve-se fechar a abertura na caixa (alvado) com uma espuma.

No Brasil, várias raças da mesma espécie de abelha europeia foram trazidas a partir do ano de 1839 e, principalmente, em 1956 para aumentar a produtividade de mel. Da África, foi trazida a Apis mellifera scuteIlata, mais adaptada ao clima e com genética marcante para higiene, a qual contribuiu muito para a formação da abelha que temos em todo o território brasileiro, que, desde 1974, é oficialmente reconhecida como ”abelha africanizada”.

FONTE: Revista CFMV

AUTORA
Ana Maria de Andrade Mitidiero
Médica veterinária
CRMV-SC no. 2505
MSc. Agroecossistemas
Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de
Santa Catarina (Cidasc)
anamit98@gmaiI.com