Os 31 países classificados para o torneio abrigam, juntos, mais de 350 pragas ainda inexistentes no Brasil e que podem entrar com os torcedores estrangeiros, informa a pesquisadora Regina Sugayama, autora de estudo sobre o assunto.
Enquanto os brasileiros e os estrangeiros que vieram assistir os jogos da Copa do Mundo 2014 estão vibrando e torcendo, o campo pode estar sendo ameaçado por centenas de novas pragas. Que vieram, justamente, com os estrangeiros, em suas malas e bolsas, ou mesmo nos sapatos e roupas.
Levantamento encomendado pela Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef) mostra que os 31 países classificados para a Copa do Mundo abrigam, juntos, mais de 350 pragas ainda inexistentes no Brasil. São insetos, ácaros, fungos e vírus que, se introduzidos em nossas lavouras, trarão prejuízos aos agricultores locais e podem causar impacto na produção nacional de alimentos.
A pesquisadora Regina Sugayama, diretora da consultoria Agropec e autora do estudo, explica que o aumento do trânsito de pessoas entre países nos últimos anos tem ajudado a disseminar as pragas pelo mundo. Entre 1901 e 2014, 68 espécies de pragas exóticas foram detectadas no Brasil – 20 delas somente nos últimos dez anos. “Às vésperas de grandes eventos como a Copa do Mundo e a Olimpíada, é preciso reforçar a atenção em nossas fronteiras e aeroportos”, afirma a pesquisadora.
O alerta de Sugayama é embasado na experiência: durante a Olimpíada de Pequim, em 2008, foram introduzidas 44 novas pragas na China. Dois anos depois, após os Jogos Asiáticos de Guangdong, foram identificadas mais 32 espécies invasoras.
O Ministério da Agricultura estima em cerca de 600 mil o número de estrangeiros que virá ao Brasil para os jogos da Copa do Mundo e informou, em nota, que vem promovendo treinamentos e reforçando suas equipes de fiscais agropecuários nos locais de entrada dos estrangeiros no País.
São Paulo, por exemplo, que abriga o maior parque citrícola do mundo, ameaçado por pragas como greening (HLB) e CVC (“amarelinho”), vai receber as seleções da Holanda, Chile, Bélgica, Uruguai, Croácia, Coreia do Sul e Inglaterra, sendo que alguns desses países são grandes produtores mundiais flores e hortaliças. Devido ao deslocamento de dezenas de milhares de torcedores, as chances de alguma praga da cultura chegar à região aumentam consideravelmente.
Plano de combate e prevenção
“É preciso ter um plano efetivo de combate e prevenção antes e durante a Copa do Mundo, pois uma vez que a praga entra, por não ter inimigos naturais nem produtos registrados para o combate, seu controle é muito complicado”, afirma Eduardo Daher, diretor executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef). “Ninguém imaginava que a Helicoverpa armigera poderia chegar ao Brasil. Pois ela chegou e em um ano já causou um prejuízo bilionário. Precisamos barrar a entrada de novas Helicoverpas”, diz o executivo, referindo-se à lagarta que vem causando grandes prejuízos em várias culturas e pedindo que a vigilância brasileira contra a entrada de alimentos ilegais seja severa.
Os Estados Unidos, com 225 pragas quarentenárias para o Brasil, lideram o ranking das “nações mais perigosas” para o agro brasileiro. Para agravar a situação, os americanos são também os que mais compraram ingressos para os jogos da Copa: cerca de 187 mil entradas. Turistas vindos da França, Itália, Austrália e Alemanha também preocupam.
Fonte: Portal Sou Agro