Nos últimos 15 anos, o Brasil aumentou em mais de 600% as exportações e em 40% a produção de carne suína. O País está presente, hoje, em 69 mercados, e classifica-se em quarto lugar no ranking mundial de países produtores e exportadores. Em exportação, está atrás dos EUA, da União Europeia (27 países) e do Canadá. Em produção, vem depois da China, da União Europeia e dos Estados Unidos.
Esses são feitos memoráveis na história de 15 anos da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína – ABIPECS. A data será comemorada no dia 15 de outubro. Em uma década e meia, a associação contribuiu para o bom resultado das negociações de acesso da carne suína aos mercados de Rússia, China, EUA, Japão, Chile, África do Sul e outros do continente africano, sobretudo Angola.
Um dos principais desafios da ABIPECS, nos próximos anos, será conseguir que a Coreia do Sul, o México e a União Europeia comprem a carne suína brasileira. Negociações para tanto já estão em andamento.
Abaixo, o presidente da ABIPECS Rui Vargas, comenta os 15 anos da entidade.
Papel da ABIPECS na abertura de mercados – A abertura de mercados envolve negociação entre governos. A ABIPECS é uma articuladora, um instrumento de entusiasmo e pressão, apoiando nos momentos críticos e com questões que vão surgindo. É o governo federal que negocia, por meio não somente do Ministério da Agricultura, mas também do Ministério das Relações Exteriores e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, com a participação até mesmo da Presidência da República. A agenda do governo federal é extensa e tem inúmeras prioridades. Compete à ABIPECS manter a questão da abertura de novos mercados para a carne suína como uma prioridade permanente. Cabe à entidade apoiar, quando necessário, e fazer pressão positiva, não deixando que o tema seja esquecido. O papel do governo é também o de providenciar as garantias de segurança alimentar (defesa sanitária).
Santa Catarina e a abertura do mercado dos EUA – O processo de negociação para a abertura de mercados é lento, em geral. No caso de Santa Catarina, por exemplo, principal estado exportador e produtor de carne suína, foi necessário, primeiramente, a obtenção do status sanitário máximo de livre de febre aftosa sem vacinação, concedido em 2007 pela Organização Internacional de Saúde Animal – OIE. Por ter uma condição sanitária diferenciada, recentemente SC conquistou mercados que levam em consideração o status de estado livre de febre aftosa sem vacinação – Chile, EUA e Japão.
Quanto à abertura da praça importadora dos EUA, o processo foi longo e iniciou-se após a certificação da OIE. Os EUA enviaram missão sanitária a Santa Catarina, em 2008, para coletar informações com o objetivo de realizar estudo de análise de risco. O processo, infelizmente, ficou paralisado. Foi somente no contexto das negociações do acordo do algodão, em 20 de abril de 2010, que começou o processo de consulta pública em Washington, encerrada em meados de junho daquele ano. Como se sabe, houve um empurrão do contencioso do algodão entre o Brasil e os EUA, na Organização Mundial do Comércio (OMC). O Brasil evitou retaliar os EUA e obteve, em contrapartida, entre outros compromissos, o dos norte-americanos indicarem que concluiriam a tão esperada aprovação de acesso da carne suína catarinense àquele mercado.
Certificação do Japão – A abertura do mercado dos EUA colaborou para a abertura do mercado japonês. As negociações com o Japão já estavam em andamento, e o aval dos EUA inspirou maior confiança dos japoneses no processo de certificar o Brasil como exportador para aquele país. Um mercado com critérios sanitários rigorosos, como o norte-americano, funciona como passaporte para a entrada da carne suína em outros mercados igualmente exigentes do ponto de vista sanitário, como o Japão. Espera-se, daqui por diante, que o aval dos EUA e do Japão contribuam para o ingresso da carne suína de Santa Catarina no México, na Coreia do Sul e na União Europeia.
SC, livre de febre aftosa sem vacinação – A obtenção do status sanitário máximo e sua manutenção resultam do bom trabalho de muitos. O esforço para a erradicação da febre aftosa em SC foi resultado de parceria entre o setor público e privado. Para uma atuação mais eficiente dessa parceria foi criada a OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) chamada ICASA – Instituto Catarinense de Sanidade Animal, pelas empresas do setor, em SC, que já eram associadas ao Sindicarne e que são também associadas à ABIPECS.
A ABIPECS articulou as ações em nível nacional. Começou por obter a decisão do Ministério da Agricultura de apresentar à OIE a documentação necessária para a certificação do status máximo. Em 2007, SC obteve a certificação internacional.
Outras ações da ABIPECS – Além de ter trabalhado para o reconhecimento pela OIE do status sanitário de SC de livre de aftosa sem vacinação, a ABIPECS contribuiu, nos últimos 15 anos, para a criação de fundos de defesa sanitária nos estados. A associação defendeu junto aos organismos internacionais a aceitação do princípio de regionalização da febre aftosa, o que permitiu o reconhecimento de SC como estado livre de febre aftosa sem vacinação. A ABIPECS assinou vários acordos de cooperação técnica com instituições brasileiras e internacionais. Defendeu o setor em contenciosos relacionados a sanidade e administrou, até a sua extinção, em 2008, o Fundo de Promoção e Divulgação da Carne Suína (Fucasui).
Os próximos 15 anos – Nos próximos 15 anos, a principal missão da ABIPECS será liderar a transformação política e estratégica da cadeia produtiva, tornando-a uma referência mundial. Para atingir essa missão, a entidade deverá executar as seguintes políticas:
- convocar a coesão dos associados para ampliar a competitividade do setor e aumentar seu poder político; articular os agentes que definem a cadeia produtiva; promover a transparência das garantias de qualidade e segurança alimentar.
A ABIPECS deverá desenvolver as seguintes estratégias: articular a interação de todos os agentes em defesa sanitária, criando um fundo privado nacional de financiamento; definir e divulgar a imagem do produto suíno nos diversos segmentos de relações institucionais e de mercado, reeditando o Fucasui; prospectar novos mercados, articular os agentes, negociar acesso a esses mercados e fazer a promoção comercial; acompanhar a evolução dos mercados, promover continuamente as relações institucionais; monitorar o cumprimento dos acordos e atuar proativamente na consolidação dos mercados já conquistados.
Evolução das exportações e da produção – Em 1998, quando a ABIPECS foi criada, a exportação de carne suína brasileira era concentrada na Argentina, em Hong Kong e no Uruguai. Os três mercados, juntos, respondiam por 95% das exportações brasileiras. Hoje, os dez principais destinos para a carne suína do Brasil – entre eles, Rússia, Hong Kong, Ucrânia, Angola, Cingapura e Uruguai – representam 81% das exportações brasileiras. Até agosto de 2013, o Brasil já exportou carne suína para 69 países.
A dependência da Rússia já diminuiu muito, mas ainda há uma grande concentração das exportações brasileiras para aquele mercado, de aproximadamente 25%. Entretanto, para uma praça que já respondeu por 75% das vendas de carne suína, a relação de dependência melhorou muito.
Houve diversificação, também, de cortes suínos. Em 1998, o Brasil exportava basicamente carcaça; atualmente, as exportações abrangem cortes variados e miúdos, categorias que respondem por 85% das exportações.
Os volumes cresceram exponencialmente: o Brasil exportou 81.565 toneladas de carne suína, em 1998; em 2012, embarcou 581.477 toneladas – um aumento superior a 600%. Em 2013, até agosto, foram exportadas 343.293 toneladas.
Quanto à produção, em 1998, totalizava 2,49 milhões de toneladas. Em 2012, o Brasil produziu 3,89 milhões de t, um aumento de 40,2%.
Empresas de Santa Catarina que exportam para o Chile, EUA e Japão:
Para o Chile, as empresas exportadoras são: BRF SA (unidade de Concórdia – SC), Seara Alimentos Ltda (município de Seara – SC e Itapiranga – SC), Cooperativa Central Aurora Alimentos (Joaçaba – SC e Chapecó – SC), Sul Valle Alimentos Ltda (São Miguel do Oeste – SC).
Exportam para os EUA: BRF SA (Herval D’Oeste – SC), Seara (Seara e Itapiranga – SC), Aurora (São Miguel do Oeste e Chapecó – SC; Sul Valle (São Miguel do Oeste – SC).
Empresas habilitadas a exportar para o Japão: BRF SA (Herval D’Oeste – SC e Campos Novos, SC), Pamplona Alimentos SA (Presidente Getúlio – SC e Rio do Sul – SC), Seara Alimentos Ltda (Seara – SC e Itapiranga – SC), Sul Valle Alimentos Ltda (São Miguel do Oeste – SC), Cooperativa Central Aurora Alimentos (Chapecó – SC).
Perda de competitividade – Manter-se em quarta posição como exportador não tem sido fácil para o Brasil, pois a indústria de carne suína perdeu competitividade, nos últimos anos. A participação da mão de obra no custo de produção está muito semelhante à dos países concorrentes. Os custos de logística são bem mais altos do que os do principal concorrente, os EUA. O preço de produzir, no campo, se aproxima ao dos EUA. Os custos com despesas portuárias e de frete são mais elevados e retiram boa parte da competitividade brasileira.
Os principais concorrentes do Brasil são os maiores exportadores: EUA, União Europeia (Dinamarca, Alemanha) e Canadá.
As barreiras sanitárias são o obstáculo chave para as exportações de carne suína.
Evolução do consumo interno – O consumo interno de carne suína permaneceu estável entre 14 e 15 Kg per capita nos últimos 15 anos. Em 1998, o consumo aparente foi estimado em 14,5 Kg por habitante. Em 2012, a estimativa foi de 14,9 Kg por habitante. Em alguns momentos, o consumo interno foi maior, acompanhando o ciclo de crescimento da economia brasileira e de preços altos das carnes concorrentes. Em outros momentos, o consumo foi menor, porque as exportações estiveram mais atrativas do que as vendas no mercado interno.
Evolução sanitária – Nos últimos 15 anos, o Brasil desenvolveu bem os aspectos sanitários, principalmente os que envolvem biossegurança. A Organização Mundial do Comércio destacou a importância dos temas que envolvem a sanidade e a inocuidade. O Brasil, para crescer, foi obrigado a iniciar um processo de modernização dos sistemas de produção e de serviços veterinários oficiais. Essa necessidade está em pauta até hoje, e o País continua adaptando-se aos requisitos internacionais para se manter como produtor e exportador de carne suína. O grande segredo é permanecer em sistema integrado e fortalecer o conceito de cadeia produtiva, para atingir a qualidade que o mercado demanda.
Fonte: Abipecs