O consumidor já deve ter notado que o preço do leite aumentou nos supermercados. Na Grande Florianópolis, uma caixa do longa vida sai em média R$ 2,50, valor quase 40% maior que em janeiro deste ano. Fatores climáticos e a valorização do dólar elevaram o preço pago ao produtor a um patamar histórico no Brasil e também em SC.
O veterinário e assessor de lácteos da Aurora Alimentos, Selvino Giesel, explica que o período de estiagem de chuvas em 2012 no Brasil e nas demais áreas produtoras do mundo prejudicou a pastagem e aumentou o preço do milho e do farelo de soja, usados como complemento na alimentação do gado leiteiro.
Segundo ele, a elevação dos custos para os agricultores acabou afetando a alimentação dos animais, que entraram em 2013 menos produtivos. Neste ano, para completar, o frio, que colabora para o crescimento do pasto de inverno, demorou a chegar, atrasando em cerca de 40 dias o crescimento da aveia e do azevém. Em maio, o pasto que deveria estar abundante nas fazendas ainda não havia nascido.
Dólar alto encarece valor do produto importado
De acordo com Giesel, veterinário da Aurora, os meses de junho, julho e agosto são os mais produtivos do ano. No entanto, a produção de leite em 2013 deve ficar bem abaixo do esperado nestes meses. A expectativa para junho, segundo ele, era de um aumento de 8% na produção, mas fechou com 3%. Julho deve terminar com um incremento de quatro pontos percentuais abaixo do estimado e setembro, com cinco pontos a menos.
A forte demanda estimula a importação do produto. Segundo o vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de SC (Faesc), Nelton Rogério de Souza, o Brasil importa ao mês, da Argentina e Uruguai, o equivalente a todo o volume de leite produzido em SC no mesmo período.
Apesar de o Estado não ser importador, os valores em dólar pagos pelo restante do país têm elevado o preço do leite em todas as regiões.
Aumentar produção é desafio
Entre os fatores que elevaram o preço do leite no Brasil, o que mais tem surpreendido os empresários do setor, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP), é a demanda aquecida.
O analista de mercado Paulo Moraes Ozaki explica que nem mesmo o aumento do preço nas gôndolas tem impedido o consumidor brasileiro de comprar o produto e seus derivados.
Outro fator que elevou os preços foi a redução dos pastos, alimento que mais estimula a produção do leite dos animais, segundo o vice-presidente da Faesc, Nelton Rogério de Souza.
Dados da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) mostram como o consumo aumentou mais que a produção nos últimos anos. Entre 2008 e 2012, a produção nacional de leite aumentou 4,6% ao ano, enquanto o consumo foi elevado em 5,4%.
O bom preço do leite está levando produtores como Edson Bertuzzo, de Concórdia, a planejar o aumento da produção. Ele e dois irmãos têm 20 vacas em lactação, com produção de 500 litros por dia. O preço que eles estão recebendo é de R$ 0,96 por litro.
— É um preço histórico — comemora o produtor Edson.
Os Bertuzzo conseguem faturar R$ 14 mil mensalmente, sendo que 40% (R$ 5,6 mil) é o lucro. A meta deles é chegar a 25 animais e uma produção diária de 20 litros. Edson diz que nos últimos cinco anos a produtividade por vaca aumentou de 15 para 20 litros/dia.
O gerente regional do Sebrae/SC no Oeste, Enio Parmeggiani, avalia que a produção de leite por animal no Brasil ainda é baixa, apesar de SC se destacar entre os Estados produtores. Um estudo da entidade identificou que enquanto a média brasileira é de quatro litros de leite por vaca, os Estados Unidos chegam a 30 litros, a Europa a 22, e a Argentina a 18 litros.
Para ele, é preciso investir em mecanização e na alimentação do gado à base de pasto. Para incentivar o produtor, o Sebrae/SC lançou, em 2007, o Sistema de Inteligência Setorial (SIS), que disponibiliza gratuitamente na internet (sis.sebrae-sc.com.br) relatórios com informações auxiliares para produtores do Estado.
Fraudes não impactaram o mercado
Os recentes casos de adulteração do leite, com foco no Rio Grande do Sul, não causaram queda nas vendas do produto, segundo o analista de mercado Paulo Moraes Ozaki. Pelo contrário, o consumidor começou a procurar marcas mais caras.
O diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida (ABVL), Nilson Muniz, acrescenta que o volume de leite adulterado retirado do mercado pelo Ministério Público não influenciou os preços na região Sul ou no país.
— São colocados para consumo 6 bilhões de litros de leite ao ano no Brasil. O volume retirado é irrelevante para uma alteração de oferta. Até porque as pessoas deixam de consumir certas marcas para comprar outras — observou.
O analista de mercado do Cepea destacou que o aquecimento da demanda pelo consumidor veio em má hora. Uma forte seca afetou a produção no maior exportador de leite do mundo, a Nova Zelândia. Com estoques restritos, o preço internacional do produto também aumentou.
Nilson Muniz afirmou que o leite nunca esteve tão caro no mundo. Segundo ele, antes de o preço começar a subir, em 2012, uma tonelada do produto custava US$ 2,5 mil. Hoje, o mesmo volume sai por US$ 5 mil.
Fonte: Diário Catarinense