Com a especialização do Setor Primário Nacional, notadamente nas últimas décadas, o zoneamento agrícola passou a se desdobrar em microrregiões ; onde um dos fatores levados em consideração são os micro-climas. Os municípios de Cerro Negro, Anita Garibaldi, Celso Ramos e Abdon Batista não estão enquadrados como área preferencial para produção de citros, mas devido ao micro clima extremamente favorável a produção de citros as margens do Rio Canoas, a Prefeitura Municipal de Abdon Batista, em julho de 2004 reuniu 29 agricultores com a idéia de implantar uma fabrica de sucos no município.

Os produtores, animados com a idéia, fundaram, então a COOPLASC – Cooperativa de Produção Agropecuária Familiar do Planalto Sul Catarinense. Como surte ocorrer em iniciativas coletivas, pouco mais de um terço dos associados prosseguiram com o projeto, visto que, com as mudanças no Governo Municipal, a Prefeitura também não deu seqüência a implantação da fabrica. Os irmãos Nilson e Oilson Mocelin, que estavam entre aqueles pioneiros e, mantiveram-se fieis aos propósitos daquela histórica reunião.

Por mais que a experiência e conhecimento de ambos animasse, pois o primeiro já cultivava cana-de-açúcar para fabricação de cachaça artesanal; cultura essa de clima quente e tida como inadaptável à região, não poderiam prever tamanha adaptação das variedades cítricas que plantaram às margens do Rio Canoas. Partindo de um projeto do Engenheiro Agrônomo local José Mecabô Jr., os irmãos Mocelin hoje detêm pomares em terras próprias e arrendadas, superando as 60 mil plantas: todas elas em produção.

Segundo a Engenheira Agrônoma Mariângela Pirotti, responsável técnica da ACACITROS – Associação Catarinense de Citricultores, eles estão entre os maiores citricultores do Estado, com área plantada próxima a 50 Has.

O micro-clima das margens baixas do Rio Canoas, em que a neblina matinal impede a formação de geada, aliado à boa pluviosidade e fertilidade do solo, formam uma combinação perfeita para a produção cítrica. Os citros, nas variedades Champagne, Valência, Folha Murcha, Montenegrina etc. produzem na região, já aos 2 anos de idade; situação só encontrada entre os melhores pomares irrigados do Estado de São Paulo, maior produtor mundial de citros. A excelência das condições físicas, permite ainda, uma produção adulta superior a 2 caixas (80 kg) por planta. Com base nos dados de um projeto iniciado em Cordeirópolis – SP, no ano de 1986, os produtores implantaram seus pomares com aproximadamente 900 plantas por hectare.

Ainda segundo a Eng.ª Agr.ª Mariângela e o Eng.º Agr.º Vinicius M. Porto, da CIDASC, as condições sanitárias dos pomares da microrregião são boas; estando livres de pragas quarentenárias e com excelentes condições para o mercado in natura. Este último profissional, na condição de fiscal estadual, expediu, na safra passada, Permissões de Transito Vegetal – PTV para comercialização das frutas fora de Santa Catarina, de quase 300 toneladas. Isto só para as cargas saídas de Abdon Batista.

Essa produção foi comercializada quase toda para o Rio Grande do Sul. Também as crianças da região se viram servidas pelos abdonenses; por meio do fornecimento à merenda escolar dos municípios circunvizinhos. Até mesmo a grande algoz dos citros do Vale do Canoas, a empresa que implanta a Usina Hidrelétrica Garibaldi, serviu em seus refeitórios, as suculentas laranjas locais in natura. Sem embargo, a Diáspora decorrente da implantação da barragem Garibaldi, inundará quase a totalidade dos pomares da região, que estão muito bem adaptadas as margens do Rio Canoas e, dificilmente, os produtores encontrarão área tão propicia ao cultivo de citros.

A expectativa para a safra atual é de uma grande produção cujas variedades mais precoces já começaram a ser colhidas. Em que pese o pico da colheita ser a partir de julho, com a supressão de seus pomares, os irmãos Mocelin e outras famílias produtoras, como os Salmória (maior produtor do Estado com 94,37 plantados); vêem-se na angustia de encontrar outras terras que lhes permitam prosseguir com o cultivo. Todavia, têm os mesmos a certeza de que não encontrarão, sobretudo dentro de seus recursos financeiros; terras e micro clima assim favorável. Talvez nem mesmo condições adaptáveis para os citros para os quais já detém “know how” considerável.

Principiando a colheita de sua última safra, a qual corre o risco de não ser concluída pelo enchimento precoce do lado da Usina; não se lê no semblante dos irmão Mocelin outra mensagem que não: “Um sonho frustrado!”

Fonte: Jornal O Momento