O avanço da diarreia epidêmica suína (PED, na sigla em inglês) para a América do Sul levou o governo brasileiro a reforçar os controles na entrada de todo e qualquer suíno vivo importado pelo Brasil. Tema de preocupação no setor no mundo, a enfermidade não chegou ao Brasil, mas o Ministério da Agricultura resolveu tomar procedimentos específicos para isolar os animais 0 importados para uso como reprodutores – que desembarcam no país.
Vizinhos, como Colômbia e Peru, já têm casos da doença que começou nos Estados Unidos. Segundo o diretor do Departamento de saúde Animal do ministério, Guilherme Marques, desde o primeiro semestre os fiscais agropecuários federais que atuam no aeroporto de Viracopos, em Campinas – ponto de desembarque desses animais vindos de outros países -, vêm sendo orientados a separar todo suíno importado. E de lá encaminhá-los em caminhão lacrado para a Ilha de Cananeia, no litoral paulista.
Até meados do primeiro semestre deste ano, a importação de suínos vivos pelo Brasil, apesar de ser submetida a controles sanitários, não incluía o isolamento dos animais, de acordo com normas do ministério. Agora, na ilha, onde há um posto de fiscalização do serviço sanitário brasileiro, mantido pelo ministério, os suínos permanecem obrigatoriamente entre 25 e 30 dias para fiscalização sanitária.
Se não houver nenhum indício clínico da doença, o animal enfim pode prosseguir para o destino identificado pelo importador. Estima-se que cerca de 5 mil desses animais aportem em solo brasileiro, por ano, para a finalidade específica de reprodução. “Há possibilidade real de essa doença avançar para qualquer país no mundo. E por isso temos que blindar mais o Brasil da possível entrada da enfermidade”, disse Marques ao Valor. “Para isso reestruturamos nosso posto de recepção de animais em Cananeia para ampliar a capacidade de suínos”.
Os fiscais agropecuários que trabalham no posto de controle de Cananeia precisam realizar diversos testes com esses animais até descartarem por completo o risco de contração da doença. No entanto, embora a enfermidade afete apenas suínos e não traga riscos para consumidores de carne suína, ela não é transmitida apenas pelos próprios animais. A contaminação pode se dar também pelo contato com vestuário, como roupas e sapatos, de funcionários de granjas e até de próprios fiscais que eventualmente entram em contato com esses animais para inspeção.
“O risco hoje no Brasil é pequeno, mas alertamos as granjas e indústrias também, que são igualmente responsáveis para que também façam prevenção e nos ajudem a evitar a doença”, explicou Guilherme Marques.
O pesquisador Nelson Morés, da Embrapa Aves e Suínos, de Concórdia (SC), que acompanha o desenvolvimento da diarreia epidêmica suína pelo mundo e vem participando da elaboração de medidas de biossegurança com o governo, relata que o índice de mortalidade da doença é superior a 80% em leitões recém-nascidos nas granjas infectadas.
“As ocorrências diminuíram nos EUA com o período do verão, mas a grande preocupação dos produtores americanos é com a chegada do inverno por lá, porque o clima frio aumenta a preservação do vírus, que sobrevive mais nessas condições”, afirmou o pesquisador.
Para Morés, o Brasil tem tomado as ações adequadas de controle e monitoramento de suínos vivos. Entretanto, é preciso cuidado redobrado, uma vez que os suínos podem ir para o abate, não ter a enfermidade, mas mesmo assim serem portadores do vírus causador da PED.
Contexto
A diarreia epidêmica suína (PED, na sigla em inglês) tem contribuído para a alta dos preços internacionais da carne suína, uma vez que afetou a oferta global do produto depois de atingir rebanhos reprodutores, principalmente nos EUA, México e Canadá. Esse cenário tem beneficiado as exportações brasileiras. Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), no mês de outubro, o preço médio da carne suína brasileira exportada subiu 43,5% em relação a igual mês de 2013, para US$ 4.194 por tonelada. As vendas totais renderam US$ 183,1 milhões, avanço de 39,6% na mesma comparação. Além da menor oferta, os preços também têm sido impulsionados pelo embargo da Rússia aos EUA, Canadá e União Européia, entre outros.
Fonte: Jornal Valor