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A aposta na segunda safra de soja, também conhecida como “safrinha”, vem ganhando força em Mato Grosso este ano. A queda nos preços do milho, tradicional – e ainda mais representativa – cultura da safrinha, estimulou a migração de parte dos agricultores do Estado.

De acordo com Laércio Pedro Lenz, presidente do sindicato rural de Sorriso, a expectativa é que ao menos 70 mil hectares, o equivalente a 12% da área plantada no município, sejam cobertos com soja na safrinha em 2014. “No ano passado, esse tipo de plantio era praticamente insignificante”, afirma Lenz. A Agroconsult estima que, em todo o Mato Grosso, sejam destinados pelo menos 200 mil hectares à segunda safra da commodity.

Como as lavouras estão recém-plantadas, ainda é cedo para prognósticos sobre o desempenho da cultura. Contudo, o esforço para o controle de pragas tem geralmente que ser maior do que na safra de verão, e a produtividade costuma ser menor.

“As plantas tinham quatro dias de emergidas e a mosca branca já estava atacando”, afirma Silvésio de Oliveira, produtor do município de Tapurah, que resolveu testar o cultivo em 60 hectares. A colheita deverá começar entre o fim de abril e o início de maio.

De acordo com Alan Malinski, analista da Agroconsult, é contraindicado plantar soja sobre áreas anteriormente plantadas com a oleaginosa porque o ciclo de doença e pragas não se encerra. “Mas tem produtor achando que ainda é mais vantagem colher 35 a 40 sacas [o normal para o Estado é acima de 50] do que investir em milho”, afirma.

Ainda assim, boa parte dos produtores visitados pelo Valor durante o “Rally da Safra” afirma que pretende manter a área cultivada de milho na safrinha, com alguns casos de reduções pontuais. Mas a expectativa de Lenz, do sindicato rural de Sorriso, é de uma queda de significativos 15% na área plantada na região, uma das mais importantes produtoras de grãos do Estado. “A chuva dos últimos dias atrasou o plantio, o que deve colaborar para o recuo”, avalia.

No início de fevereiro, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimou uma diminuição de 5,8% na área dedicada ao milho na segunda safra em Mato Grosso em relação ao ano passado, para 3,15 milhões de hectares.
 
Após anos favoráveis, a expectativa é de margens menores em 2014/15

O temor em relação à produtividade e o esforço dos produtores de soja de Mato Grosso para extrair o máximo de capitalização da safra 2013/14 parecem bastante prudentes, tendo em vista que a fase gloriosa de ganhos pode enfrentar um revés na próxima temporada. Os últimos cinco anos foram marcados por uma forte geração de caixa, o que permitiu aos agricultores do Estado investirem em tecnologia, máquinas novas e aumento de área. Contudo, 2014/15 tende a ser um ciclo de baixa nos preços, em função principalmente do excesso de oferta global.

“A próxima safra deve ser mesmo mais dura”, prevê André Debastiani, da Agroconsult. Segundo ele, o crescimento de consumo da China e quebras em importantes produtores (caso dos EUA em 2012/13) fizeram com que os estoques de soja permanecessem baixos nos últimos anos. Agora, porém, o cenário que se descortina é de safra cheia em todas as principais regiões produtoras do mundo. “Ainda dependemos do clima nos EUA e na América do Sul, mas a indicação é de um ciclo de baixa, com ajustes nas margens e produtores obrigados a segurar mais os custos”, avalia Debastiani.
 
Do lado dos custos, o dólar valorizado em relação ao real deve encarecer ainda mais os insumos. De acordo com o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o custo operacional para a implantação de um hectare de soja na próxima safra já está 16% maior que em 2013/14, a R$ 1.583 por hectare – a entidade projeta R$ 1.363 para 2013/14, um pouco abaixo do que estima a Agroconsult.

Somente os inseticidas subiram 92% e já representam mais de 10% do custo de produção, nas contas do Imea. Se considerado o custo total (que inclui depreciação de máquinas e custo de oportunidade da terra), a elevação é de 14,1%, a R$ 2.667 por hectare.

O frete é outro componente de peso nesse emaranhado de gastos. A combinação entre a péssima situação das estradas, a grande demanda por caminhões e a concentração do escoamento pelos portos do eixo Sul-Sudeste provoca a cada ano novas disparadas nos custos do transporte.

Segundo a Associação de Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT), o valor do frete no Estado bateu recorde na última semana com metade da soja colhida, chegando a R$ 330 por tonelada no trecho de Sorriso a Santos, ou R$ 18,60 por saca. No ano passado, o pico de R$ 320 por tonelada foi atingido somente na primeira semana de março, quando a colheita estava 70% concluída.

A saída da produção do Centro-Oeste pelos portos do Norte do país, um dos maiores anseios do setor, deve permitir uma economia média de 34% nos gastos com o transporte, conforme já noticiou o Valor. Entretanto, essa alternativa ainda não será realidade na próxima safra. A plenitude da rota que utiliza a BR-163 e o rio Tapajós até os portos de Santarém e Vila do Conde, no Pará, deve ser atingida apenas em 2015/16.

A pressão sobre os preços da soja, que estão se acomodando em patamares bem aquém do pico de US$ 17 por bushel em meados de 2012 (abaixo de US$ 13 por bushel), é um fator adicional de cautela entre os produtores. Para Debastiani, momentos como esse têm seu lado positivo. “É fácil estar num negócio em que todo ano o preço sobe. Quando passa por períodos de acerto, o agricultor racionaliza os insumos, os investimentos e a própria gestão”, conclui.

Fonte:  Valor Econômico