Foto: ASCOM/CIDASC

Os bois do pecuarista Venilton Coelho não aguentaram o segundo ano de seca consecutiva no sertão da Bahia. Ao entrar o ano de 2013, Coelho contabilizou a perda de 230 cabeças com falta de água e pastagem e um prejuízo de R$ 200 mil. Diante do cenário, o filho do criador, Matheus Ladeia, decidiu contornar a situação com uma saída lucrativa. Graduado em engenharia mecatrônica, Ladeia criou há três meses uma plataforma on-line para o anúncio e a negociação de áreas de pastagem, e já sonha em faturar ao menos R$ 1 milhão no primeiro ano de operação.

“A intenção é que as pessoas que têm pasto possam divulgar e as que precisam desse pasto possam encontrar”, afirma Matheus, que abriu a empresa Pastar para viabilizar o negócio. Segundo o engenheiro, o aluguel de pastagens é comum na Bahia no período da seca, mas é difícil saber quais terras estão disponíveis. “Se nós soubéssemos de uma pastagem a 400 quilômetros de distância, valeria a pena. Poderíamos ter perdido apenas R$ 30 mil.”

A iniciativa de Ladeia de criar uma solução tecnológica para clientes do agronegócio não é isolada. O setor tem recebido a atenção de pequenos empreendedores, que estão criando itens que passam por novas ferramentas de comercialização chegam a soluções ecológicas para a produção e as mercadorias.

“A tradição no agronegócio e a inovação na agricultura criam um habitat muito favorável para startups e spinoffs [novas empresas geradas a partir de outras já existentes] que estão atuando no mercado”, afirma Sergio Barbosa, gerente executivo da EsalqTec, incubadora de empresas tecnológicas voltadas apenas ao setor.

Segundo Barbosa, as inovações para o agronegócio têm, em geral, viés de sustentabilidade. “Fazer com que o agronegócio seja competitivo, atenda as demandas do Brasil e do mundo e saiba conviver com o meio ambiente de maneira menos agressiva é o caminho para startups.”

Ladeia diz que pretende tornar a Pastar uma referência em negociação em regiões com graves problemas climáticos. “Nosso know-how vai ser a transferência de animais em situações extremas”, como a Austrália, que costuma passar longos períodos de estiagem, exemplifica.

A plataforma da Pastar entrou em funcionamento no dia 26 e também permite a comercialização on-line de bois. A receita será obtida com a cobrança de 4% por boi vendido ou uma parte do aluguel da pastagem equivalente a 1% do valor de cada animal na terra negociada.

A expectativa é que a empresa chegue em dezembro de 2014 com oito mil animais comercializados, entre cinco mil e dez mil animais transacionados para os pastos negociados e faturamento entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão. O empresário já conseguiu um investidor-anjo que aplicou R$ 100 mil.

De olho nas frutas

Outra plataforma de negociação de produtos agrícolas on-line é a Freschbroker. Criada há três meses, a ferramenta reúne vendedores e compradores de frutas perecíveis, com foco no mercado europeu. Por enquanto, a plataforma é gratuita, mas os desenvolvedores pretendem cobrar neste ano. “O ramo de produto perecível necessita de rapidez, que hoje não existe no setor”, diz Sávio Lima, um dos sócios da startup, criada no Porto Digital, em Recife.

O site já tem 117 empresas cadastradas. Entre os vendedores há algumas do polo frutícola de Petrolina, no Vale do São Francisco, que comercializam manga e uva para a Europa. A Freschbroker ainda não teve a mesma sorte que a Pastar, mas está à procura de investidores para impulsionar o negócio. A ideia, segundo Lima, é criar uma versão para celulares este ano, em que as empresas possam aceitar ofertas e compras, depois expandir as operações para os Estados Unidos e, em seguida, para o Brasil.

A fruticultura também é o nicho de mercado da Opara, que oferece um software para o gerenciamento da produção que rastreia a origem e o destino das frutas. Única prestadora desse tipo de serviço, a empresa já tem três anos de atuação, mas ainda batalha para ganhar mercado. Com cinco clientes no Nordeste, a Opara pretende agora mudar sua atuação para vendas on-line e, assim, alcançar também o mercado externo, principalmente Estados Unidos e Europa. “O custo para ir atrás de clientes no Brasil estava muito alto”, afirma o sócio Gustavo Monteiro.

Atuação em grandes culturas

A maior parte das startups que atuam na agropecuária ainda foca em culturas de alto valor agregado, que têm maior margem para arcar com custos elevados. Porém, a Promip, empresa de manejo integrado de pragas, planeja entrar no mercado da soja e do eucalipto em 2016, com o fornecimento de produtos de controle biológico. “Em grandes culturas, nossa rentabilidade pode ser até maior do que em culturas de alto valor agregado, porque a área é menor”, afirma o sócio Marcelo Poletti. Para este ano, a Promip prevê que o faturamento avance 60% apenas no segmento de controle biológico, após crescer 100% em 2013.

Fonte:  DCI