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A China e o Brasil deverão assinar hoje um acordo que permitirá a abertura do mercado chinês para o milho brasileiro, conforme antecipou o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor. A expectativa é que os embarques possam evoluir até alcançar cerca de 10 milhões de toneladas do cereal por safra – o que, a preços atuais, agregaria cerca de US$ 2 bilhões às exportações do agronegócio nacional.

Nesta safra 2013/14, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), as vendas totais de milho do Brasil ao exterior somarão 18 milhões de toneladas, ante 24,5 milhões em 2012/13, enquanto as importações da China chegarão a 7 milhões, ante 3 milhões na temporada passada. Para analistas, a tendência de crescimento das compras do país asiático – que até recentemente exportava o produto – vai perdurar, em consequência de uma demanda doméstica crescente, puxada pelo consumo de carnes.

“Esse deve ser um dos sucessos do encontro”, afirmou sobre o acordo o vice-presidente da República Michel Temer, que lidera a delegação brasileira que vai participar da reunião anual do mais alto nível entre os dois países nesta quarta-feira em Cantão. Os chineses até agora barram a entrada do milho brasileiro por meio de uma série de exigências válidas para o milho semente, apesar de o Brasil insistir que exporta o grão para consumo.

Agora, de maneira pouco usual, a negociação foi acelerada para que seja assinado um protocolo fitossanitário que permita a efetiva abertura do mercado chinês. A razão para a rápida movimentação – que um negociador exemplifica com um estalar de dedo -, é que hoje o interesse para que isso aconteça é mútuo.

De acordo com a FAO, a agência da ONU para agricultura e alimentação, o aumento das compras chinesas é uma das razões para a prevista alta de 13% das importações globais do milho em 2013/14. E no Brasil a produção disparou nas últimas duas safras – o avanço foi de quase 13% no ciclo 2012/13, para 81 milhões de toneladas, com estoques que vão superar 13 milhões. É esse o contexto que leva o ministro da Agricultura, Antônio Andrade, a estimar que os embarques para a China poderão chegar a 10 milhões de toneladas no futuro. Ou mesmo a 15 milhões de toneladas, conforme Michel Temer.

Segundo o presidente-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Alysson Paolinelli, a assinatura do acordo (protocolo de qualidade) com a China será uma grande vitória para o Brasil. “Será uma oportunidade muito boa para o produtor brasileiro exportar milho sem precisar passar o produto por outros países”, disse o ex-ministro da Agricultura.

O acordo da China com o Brasil ocorre mesmo em um momento de boa oferta, com colheita recorde nos EUA (351,6 milhões de toneladas, segundo o USDA). Pequim, porém, diversifica suas fontes de fornecimento. Em julho, o primeiro carregamento da Argentina aportou na China.

No caso da carne bovina, como o Valor revelou, a China manterá o embargo que entrou em vigor no fim de 2012, por causa da confirmação de um caso atípico de “vaca louca” no Paraná, apesar de consumir cada vez mais o produto brasileiro que desembarca em Hong Kong.

Temer disse que vai tentar que os chineses estabeleçam pelo menos um prazo “para o sim ou para o não”. O ministro Andrade confirmou que a ideia é fazer uma missão chinesa visitar rapidamente o Brasil para inspecionar os oito frigoríficos que tinham autorização de exportar e as nove unidades que estavam próximas de obter o sinal verde quando a carne foi barrada.

“Esse [problema da carne] já foi tratado na outra reunião [bilateral, no ano passado]”, afirmou o vice-presidente. “Mas aí abriu-se Hong Kong, que passou a importar mais que a Rússia”. De janeiro a outubro deste ano, Hong Kong foi o principal destino das exportações brasileiras de carne bovina.

Fonte:  Valor Econômico