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Após ter comprado a catarinense Agrovêneto, em novembro do ano passado, o grupo JBS, maior processador de carnes do mundo, entrou para valer no mercado de produção de SC ao fechar, no último sábado, a compra da Seara, principal marca da concorrente Marfrig. A notícia foi bem recebida por lideranças do setor.

Na avaliação do presidente da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de SC (Cidasc), Enori Barbieri, que também é filho de Teodoro Barbieri, um dos fundadores da Seara, a transação resulta em sentimentos antagônicos.

Por um lado, a decisão tende a não agradar aos produtores, que culturalmente enxergam este tipo de operação como uma concentração que diminui oportunidades para negociar; por outro, sob o ponto de vista comercial, favorece a concretização de novas relações internacionais, permitindo o acesso dos produtos locais a mercados até então inéditos.

O presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), Francisco Turra, disse que a decisão de venda da Marfrig era esperada pelo mercado.
— Isso não afetará a cadeia. Se mudar algo, será para o bem. A JBS tem uma presença forte na avicultura americana e mexicana — afirma.

Aumento de dívida fez empresa agir

Os detalhes do negócio da venda da Seara para a JBS, que também devem incluir a compra de uma unidade de produção de couro, serão divulgados hoje durante entrevista à imprensa com a presença de executivos das duas companhias. O negócio foi divulgado em primeira mão pelo blog da colunista do jornal Estado de São Paulo, Sonia Racy.

A JBS e o grupo Marfrig não se pronunciaram para a imprensa ontem, mas fontes próximas às negociações disseram que os executivos das duas companhias passaram a manhã de sábado fechando os últimos detalhes da aquisição.

As especulações sobre o futuro do Marfrig, que está altamente endividado (no final de 2012 o endividamento da empresa somava R$ 12,4 bilhões), dura alguns meses, mas ganhou força entre abril e maio com declarações do presidente da empresa, Sergio Rial, de que poderia colocar a Seara à venda ou fazer um IPO (sigla em inglês para oferta pública de ações) da marca para capitalizar a companhia.

— Com as dificuldades apresentadas pela Marfrig, em termos de balanços, a presença da JBS passou a ser muito interessante porque ela domina bons mercados — avalia o presidente da Cidasc, Enori Barbieri.

Surpreendido pela equipe de reportagem quanto à concretização do negócio, Barbieri é otimista ao ser questionado sobre uma possível redução na oferta de produtos e aumento de preços. Ele não acredita que a venda da Seara afetará as cadeias de produção e consumo pelo fato de estas serem muito bem distribuídas, com inúmeras empresas de suporte.

Perfil das gigantes

Grupo Marfrig

Origem: iniciou as operações de distribuição de cortes bovinos, suínos, de aves, pescados e vegetais em 1986.
No ano 2000, arrenda a primeira unidade de abate e processamento de carne bovina em Bataguassu (MS). Em 2009, adquire o negócio brasileiro de proteínas animais da Cargill, assumindo a Seara.

Perfil: companhia multinacional que atua no Brasil e em outros 17 países, com 138 plantas de industrialização, centros de distribuição, confinamentos e escritórios.

Receita líquida em 2012: R$ 23,7 bilhões.

EBITDA em 2012 (lucro antes dos juros, impostos, depreciações e amortizações): R$ 2,13 bilhões.

Dívidas: R$ 12,4 bilhões no final de 2012, sendo 29,9% desse valor referente a vencimentos a curto prazo.

Seara Foods

Origem: fundada em 1956, na cidade de Seara (SC), com a inauguração do primeiro frigorífico de grande porte da região. É uma das maiores produtoras e exportadoras de alimentos à base de carne de aves e suínos do mundo.

Receita líquida em 2012: R$ 15,9 bilhões.

Crescimento em relação a 2011: 19,5%.

EBITDA em 2012: R$ 1,88 bilhão.

Desempenho em 2012: a Seara Foods foi responsável por 67,3% (sendo 30,1% Seara Brasil, 14,5% Moy Park e 22,8% Keystone Foods) da receita líquida consolidada do Grupo Marfrig e 51,2% do EBITDA do negócio no ano passado.

JBS-Friboi

Origem: fundada em 1953 na cidade de Anápolis, em Goiás, expandiu suas atividades no setor de carne bovina entre os anos de 1970 e 2001.
Em novembro de 2012 adquire a empresa familiar catarinense Agrovêneto, em uma negociação de R$ 128 milhões.

Perfil: maior produtora de proteínas do mundo, exporta para mais de 150 países, opera no processamento de carnes bovina, ovina, suína e de aves e no processamento de couros.

Receita líquida em 2012: R$ 75,7 bilhões.

Crescimento em relação a 2011: 22,5%.

EBITDA em 2012: R$ 4,4 milhões.

* Com Agência Estado

Fonte: André Amaral – Diário Catarinense