O Estado de Santa Catarina se caracteriza pela agricultura familiar com produção diversificada. Em muitas destas propriedades rurais, principalmente naquelas localizadas em regiões próximas às agroindústrias processadoras de carne, a produção de suínos ocupa lugar de destaque.
A criação confinada de suínos em áreas restritas, como é a exigência das agroindústrias, traz como conseqüência a produção de grandes quantidades de dejetos com grande potencial de poluição, o que enquadra a suinocultura como uma atividade potencialmente poluidora. Porém, esse potencial poluente poderá ser drasticamente reduzido, quando a atividade estiver associada à agricultura, utilizando os dejetos como fonte de nutrientes para as plantas.
A diversidade de sistema de produção encontrada nas propriedades familiares favorece a utilização agrícola dos dejetos nos doze meses do ano, reduzindo significativamente os custos de estocagem e sua utilização como fertilizante.
Resultados de pesquisa de experimentos conduzidos em diferentes condições de solo e clima mostram que o milho e o feijão são duas culturas que respondem bem a aplicação de dejeto líquido de suínos, que apresenta grande parte dos nutrientes na forma mineral, prontamente disponíveis às plantas. Produtividades acima de 9 t/ha de milho e 3,6 t/ha de feijão foram alcançadas com uso exclusivo de dejeto de suínos como fertilizante. Quando racionalmente utilizados, os dejetos são capazes de suprir todos os nutrientes requeridos pelas plantas, podendo substituir com vantagem a adubação química, sem perder em produtividade,
Um levantamento realizado em propriedades rurais, que utilizam adubação orgânica, mostrou que o rendimento médio de milho em lavouras com uso exclusivo de dejetos de suínos é de 130 sacos/ha, existindo relatos de até 200 sacos/ha. Porém, a pesquisa mostrou outro dado interessante. Muitos agricultores, que dispõe de grandes quantidades de dejetos animais continuam usando adubo mineral e uréia em cobertura, não acreditando no potencial fertilizante do adubo orgânico em aplicação exclusiva. Certamente muitos destes agricultores estão gastando dinheiro desnecessariamente, porque a quantidade de dejetos aplicada é, na maioria das vezes, suficiente para atender a demanda de nutrientes da cultura e proporcionar altas produtividades, não necessitando aplicar-se qualquer outro tipo de adubo.
Valor fertilizante dos dejetos suínos
Produtores, que utilizam 60 m3 de dejeto líquido de suínos por hectare, estão aplicando, em média, 170 kg de N, 140 kg de P2O5 e 90 kg de K2O, quantidade de nutrientes equivalente a 10 sacos de adubo da fórmula 8-28-18 e mais 4 sacos de uréia, considerando que a eficiência do N dos dejetos de suínos chega a 80% do N mineral. Portanto, trata-se de uma adubação mais do que suficiente para atingir altas produtividades de milho e deixar o solo mais rico em fósforo e potássio. Cabe dizer que estes dois nutrientes apresentam um bom efeito residual no solo, enquanto que o nitrogênio é facilmente perdido do sistema e deve ser aplicado para cada novo cultivo.
Os resultados de análise do solo de áreas continuadamente adubadas com dejetos de suínos confirmam a boa fertilidade do solo e o acúmulo de fósforo e de potássio na camada superficial do solo sob plantio direto. Na maioria dos casos, os solos atingem fertilidade suficientemente alta, que permite intercalar dois ou mais cultivos de milho, sem aplicação destes nutrientes mostrando bom efeito residual. Nestas áreas uma adubação nitrogenada com uréia ou qualquer outra fonte de nitrogênio, normalmente, já é suficiente.
Santa Catarina se destaca na produção de suínos
Santa Catarina conta com um rebanho de aproximadamente 6,5 milhões de suínos e uma produção anual de 16.000.000 m3 de dejetos líquidos. Caso esse resíduo orgânico fosse integralmente utilizado na adubação do milho e tomando como base uma aplicação média de 60 m3/ha, a quantidade de dejetos disponíveis daria para cultivar 260 mil hectares.
Dependendo da fertilidade do solo, cada mil litros (m3) de dejetos de suínos aplicados proporcionam um incremento médio de 50 a 60 kg de milho, totalizando 3.000 a 3.600 kg de grãos de milho por hectare. Nesse caso, com condições climáticas favoráveis, sem estiagem ou outra intempérie, Santa Catarina poderia contar com um adicional anual de 780 mil toneladas de milho, sem necessidade de investir em fertilizantes minerais, que na sua maioria são importados.
Com certeza, nenhuma outra região do país tem tanta disponibilidade de adubo orgânico (dejetos de suínos, aves e bovinos) do que Oeste Catarinense, portanto é hora de dar prioridade e incentivo à adubação orgânica, visando diminuir os problemas ambientais causados pelos dejetos animais.
Fonte: Portal Dia de Campo