A produção de pinhão, junto com erva-mate, pode ser a solução para proprietários de terra com mata de araucária, protegida por lei ambiental, do Planalto catarinense. A pesquisa feita em 2012 pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, de Curitiba, em parceria com a Fundação Certi (Centro de Referência em Economia Verde), de Florianópolis, deu início do projeto Araucária+, que busca alternativa à pecuária na região, através de soluções tecnológicas, para sustentabilidade econômica das famílias.
A cadeia produtiva de pinhão e erva-mate foi mapeada e apresentada no workshop nesta terça feira, dia 8, no Sapiens Parque, em Florianópolis, reunindo 37 pessoas, entre agricultores, empresários e representantes do poder público.
Para criar um padrão responsável de produção, o Araucária+ tenta agregar valor ambiental à erva-mate e ao pinhão produzidos na região entre Lages e São Joaquim, incluindo os municípios de Painel, Urupema, Urubici e Bom Jardim da Serra. De acordo com a pesquisa, essa região é estratégica, pois possui um grande remanescente da floresta de araucárias, apesar da devastação que ocorreu depois da intensa exploração madeireira, restando entre 1% e 3% dos 20 milhões de hectares que ocupavam originalmente o território nacional.
Para o setor dos pinhões, a preservação pode significar aumento da produção nacional, que gerou retorno de R$ 10,955 milhões em 2011. Já para a erva-mate, o desenvolvimento pode levar a produção catarinense ao primeiro lugar nacional: Santa Catarina produz 104 mil toneladas, ficando atrás só do Paraná, com 152 mil toneladas.
De acordo com André Ferretti, coordenador de Estratégias de Conservação da Fundação Grupo Boticário, o primeiro passo do projeto foi a elaboração da pesquisa, encomendada à Fundação Certi, que buscou detalhar toda a cadeia produtiva, como os melhores meios de plantio e colheita, empresas e produtores que têm interesse e quais as alternativas mais viáveis.
A segunda etapa foi o workshop, com a presença dos possíveis parceiros, para discutir a redução dos danos ambientais na mata de araucárias, encontrando soluções sustentáveis de produção de erva-mate e pinhão. O próximo passo será redigir o termo de compromisso em que os interessados em participar do programa deverão assinar e, então, começarem a produzir.
Os proprietários de terra com mata de araucária costumam ter como principal meio de sustento a pecuária, já que a floresta é protegida por lei, desde 2006, impedindo o corte para qualquer outro plantio. O problema é que a derrubada dos sub-bosques – vegetação de menor porte, que fica sob a copa das árvores – para pastagem de gado coloca em risco a biodiversidade local. Um exemplo são as espécies de papagaio-do-peito-roxo (Amazona vinacea) e o papagaio-charão (Amazona pretrei), considerado como vulneráveis pelo desmatamento.
A bióloga Thiandra Cristina, do Projeto Charão de proteção aos papagaios, explicou que a população de aves reside no Rio Grande do Sul, mas migra para o planalto serrano catarinense para se alimentarem. Com o corte dos sub-bosques, os animais ficam sem alimentos suficientes para sobreviver, tendo que migrar distâncias ainda maiores para encontrar uma melhor fonte.
Com a iniciativa do Araucária+, parceiro do Projeto Charão, essa realidade pode ser mudada, já que o plantio de erva-mate na área sombreada das árvores não demanda a derrubada da vegetação que serve de sustento para as aves.
O diretor de projetos da indústria de erva-mate norte-americana Guayakí, Nelson Haray, elogiou a ideia do projeto Araucária+ e tem interesse em ser um dos parceiros. Harey, que também estava no workshop, disse que a empresa, desde o início, trabalha em pequenas comunidades e “projetos como este podem levar a preocupação ambiental em cadeia, desde os produtores até as indústrias”, ressaltou.
Fonte: Portal Economia SC